quarta-feira, 31 de julho de 2013

Ultraviolência


Quando o Mundo estiver à beira do Caos
E a Representação se demonstrar falha, pois, varia conforme a Ignorância
Quando nenhum homem for inventado como Salvador de uma Pátria
Ou, as ideias serem muito distantes para serem cultivadas na mente dos comuns
Quando os  comuns não se sentirem mais aqui ou ali e não tiverem mais auto-saber
No dia em que o filhote for pela mãe devorado
Quando cão morder o dono por sua virtude
Nós, nós passaremos a existir
E nós, nós passamos a existir
Pois, o único caminho, quando a Palavra não mais representar mero gurnido
O Caminho é a ULTRAVIOLÊNCIA
(Livro Uno do Kanti Ibizio)
Foram ditas as palavras de início da Conferência, e nós vimos aquelas três criaturas em capuzes negros entrarem na cerimônia, não expressavam nenhuma reação, mesmo com fêmeas e machos a tirar as partes púdicas das roupas, para querer deitar-se com um deles, em histeria de furor dos jovens. Sim, assim são os Jovens, hormonais.
O orador mostrou respeitos para os três, indo sentar-se atrás deles, que ficaram em pé, em silêncio. Começaram as chatas apresentações de textos e teatros daquele Colégio, no Centro de Fass, a maior metrópole de nosso planeta.
Em um dado momento, quando uma fêmea dançava com uma série de potes de barro cozido, o Kanti Jabizio se mexeu em sua capa e um silêncio sepulcral se fez... Ele tirou um braço para fora e lá estava a sua Pistola Atomizadora. Todos se ajoelharam, prestando respeito:
-Menos um! Fila 45, linha 20! – Gritou o Kanti com elmo de pássaro, Amo
O rapaz se levantou, em sua camiseta, estava a figura da rebeldia:






 Então, o Kanti Jabizio disparou a Pistola e um feixe estourou em luz azulada, o rapaz gritou:
-Não, não Greta!!
A Jovem caiu, virando poeira, lentamente... Eu... Eu amei Greta uma vez... Segurei as lágrimas, prostrei-me com o rosto no chão, só que levantei um pouco o olhar e vi, olhando para minha face, o Kanti Fano. Eu me assustei, e me abaixei novamente, ouvi o segundo tiro e luz foi percebida por mim, de canto de olho.
...
Na sala do Diretor, eu estava insólito, com a morte de Greta... Ela escolheu o Amor ao invés da Ultraviolência... Não deveria ter feito isto e...
Abriu a porta e o Kanti Fano entrou, o Diretor saiu, em silêncio, como eu nunca tinha visto. Fiz reverência e me sentei de costas para ele, entretanto, ele mandou que se vira-se para mim e me perguntou:
-Rapaz... Quem sou eu?
-Você é o Kanti Fano, o mais velho dos Três Santificados... Representa o Estado dos Cães, a servidão para a Ultraviolência é sua Segurança, você deve recitar os poemas antigos e guardar as versões do Livro Uno e...
-Certo, agora, quem é você?
-... – Não entendi a pergunta, mas, de repente, senti como se algo me olhasse por de trás do elmo de Fano... Algo “maior”
-Eu posso ver a mente, rapaz... Todo o nosso povo podia antes, no Caos, antes de nós entrarmos e salvarmos nossa existência... Sabe disto, não?
-Sim... Sei...
-Você, garoto, você quando viu aquela infeliz apaixonada morrer... Sabe o que aconteceu?
-Eu... Eu... – Com vergonha, confessei – CHOREI! – Gritei e abracei a capa negra
-Não me importo, menino... Eu sou uma Ultraviolência, emoções são meu alimento, não as tenho...
-O que... Que é então? – Eu era jovem e apenas chorava...
-Quando a moça morreu, você transmitiu o seu amor para a existência dela, eu senti isto, é algo normal, porém, você conseguiu enviar esta carga emocional para outro lugar...
-O que?
-Você criou, meu rapaz... Você criou ela em algum outro lugar...
O choque foi enorme e, quando vi, adormeci.
VINTE ANOS DEPOIS
Minhas pernas não existiam... Eu estava preso em um par biônico que funcionava a Urânio, como toda a nossa Sociedade Atômica, era moda usar jaquetas com neon e eu usava logo um sobretudo, para disfarçar o que havia acontecido comigo; também meus olho esquerdo era um globo vidro, uma câmera, além das minhas palmas das mãos, serem apenas sintéticas. Tudo devo ao meu protetor: Kanti Fano.
Vinte anos atrás, me levou e me estudou, em todas as partes e sensações, peles e ossos. Algumas partes se perderam... Mas, eu estava feliz, eu sempre fui um dedicado Agente da Causa da Ultraviolência.  Pena que meu mestre, Kanti Fano, fora substituído, pois, teve de ser internado em um Manicômio, pois, talvez ele tivesse chegado a um nível irracional do que que fazia.
Porém, eu estranhamente não pude ir para o enterro do grande Kanti Jabizio, que morrera dias antes, promovido por Alizio, seu substituto. dizem que de velho, digo... Claro que foi de velho. Estava em Uberlim, cidade do País dos Pássaros, em missão pelo Ultraviolência de lá, Kanti Amo.
A Cidade era estranha, de forma de fôrma quadrada, de cima parecia uma tábua de hexágonos, W. Cristalerio, um prefeito de lá, tinha feito uma série de reformas que destruíram a velha e eclética cidade, organizando-a racionalmente, como tudo deve ser. Entretanto, puteiros, ou como chamam quem os frequentam, “baladas”, estavam por toda a parte naquele pequeno núcleo central, aonde se mantiveram algumas construções antigas.
Recebi um comunicado do satélite atmosférico: “Alvo a vinte metros, emana vermelho”
Cheguei perto e vi, com corpo esbelto e jaqueta neon, uma fêmea. Abordei e disse:
-Têm cigarrilhas?
-Eu? Eu tenho... Mas, você é estranho...
Ela me deu, eu coloquei na boca e ela acendeu:
-Estranho, parece que eu te conheço... Como se chama?
-Eu? Iano, e tu?
-Greta, Greta Esgrima e...
Dei um golpe com a mão aberta nela, de Uki-doki [um tipo de luta como karatê], caída, esperei com ela num canto, fingindo fazer coisas com ela, relações carnais.
Logo, o apoio chegou e levamos ela para um prédio de delegacia, que para nós significa aonde ficam nossas Câmaras de Gás, Cadeiras Elétricas e Incineradores. Lá, deixaram os outros Agentes a tal da Greta nua, pendurada em um gancho fincado nas mãos, estranho, parecia que eu sentia algo por aquela coisa... Ela tinha duas Pistolas tatuadas na escápula, algo incomum era... Não pelas tatuagens, mas, pelo fato de que eram Pistolas Atômicas...
Chegou em uma cadeira de rodas, o velho Kanti Amo, e com reverência, os Agentes levaram ele para a frente da tal de Greta. Os Agentes quiseram violentá-la, preferi que não, pois, já vi como ficam as fêmeas ou machos todos sujos, isto poderia ser feito, mas, só depois dela ser vista pelo Kanti. De frente para ela, Amo disse:
-Então, você é o Ponto Fixo, o Problema de que tanto Jabizio se queixou... Agora, prostituta – e o Kanti do Pássaro cerrou os dentes, babando – você será morta!
Fiquei por um momento esperando que alguém viesse com uma arma ou algo assim, quando vi que o próprio Kanti tirou sua Pistola Atômica do blusão que estava. Com as mãos tremulas, mirou na moça, eu ajudei ele a segurar a arma:
-TZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZIM
O primeiro tiro, apenas fez o corpo pálido dela brilhar... A pistola falhou, FALHOU!
Mais um e mais outro, nada aconteceu... Era impossível qualquer coisa sobreviver aquela arma, era a coisa mais poderosa no mundo (permita, pois, as bombas atômicas eram controladas pela Ultraviolência).
A garota abriu os olhos, eles estavam mais verdes do que nunca, ela disse:
-A primeira era a Lesma, agora, é o Pássaro que deve MORRER!! – E ela arrancou a mão do gancho, ficando com os buraquinhos nas palmas. A luz apagou, o que é impossível, pois, nossas Usinas de Energia do Urânio são interruptas... Ao menos, eram...
O Impossível aconteceu. Acontecia naquele dia.
O Kanti gritou pelos outros Agentes da Causa, ninguém veio, a luz piscava e eu e ele nos vimos cercados por astronautas de roupas laranjas, Greta, no centro, olhava furiosa para o meu mestre... Me foquei em não demonstrar medo, meus olhos estavam desacostumados com a falta de luz, ao escuro, não podia mostrar a arma que tinha no bolso do meu terno.
-AMO, SUA SENTENÇA CARREGADA DE SEUS ANTEPASSADOS ESTÁ PARA SER CUMPRIDA!!!  - Gritaram em coro, os astronautas, Greta, junto, percebi um Elo Psíquico entre eles.
-Quem está aí???! Quem são vós?!!!
-NÓS, NÓS SOMOS OS COLONOS NYXK, ANTIGOS DONOS DESTE MUNDO CORROMPIDO!
-Quem??? Vocês são Agentes do Caos??? Nós, a Ultraviolência salvamo...
Um feixe de luz acertou a cabeça do Kanti... Eu vi a cabeça desmanchar em fluídos, por dentro do elmo de Pássaro. Por uma vez mais em minha vida, chorei uma lágrima:
-Então, agora sou eu?
Um dos astronautas abriu seu elmo e eu me vi, gritando a seguir:
-FANO! MESTRE FANO?
Ele me abraçou e disse:

-Obrigado, obrigado, meu pequeno experimento! Graças a você... Nós salvamos, salvamos a Ultraviolência!


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