Entre as torres da cidade dormem os sonhos dormem os amores dormem lágrimas o que corre sobre mim cai como a chuva da luz do crepúsculo em cada pensamento fugindo entre os olhos no mundo fixa! Fixa! no céu poente da memória
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N'alguma praia entre o fim do mar na linha do horizonte entre a boca dos dois amantes um fim inteiro de todo o amor terminado entre o último abraço de ontem e o amanhã solteiro em seus pensamentos Caminhando na praia estavam os dois perdidos em alguma dimensão paralela nada falavam tudo diziam vi n'aquilo um verdadeiro amor? ou, cúmplices de um crime dois ladrões da alegria do mundo no momento deles abraçaram o tudo, inteiro entre a distância de suas bocas, toque de suas mãos entre a distância da praia à linha do horizonte entre a distância de limite de seus fios de cabelos até aqueles pequenos fios brancos Tudo, inteiro Apenas dois, pra dois N'algo entra no mar Cai no horizonte E me beija Me beija até tudo Tudo estar completo Que crime, isto Que crime
--- Na fumaça, em que todo o fogo Está Minha cabeça funcionando Emitindo Ideias como louco Caçando seus moinhos Conversando com seus demônios Volvendo em seus ventos Ares de pensamento Da brisa até a tempestade, nas frases Na caçada De algum momento Presente, parado no tempo Registrável como poema Ficção de alguma filosofia futura Fumaça de nem sempre fogo Ideia que nem sempre boa Presente que esconde ora fundos vales Ora serras Nebulosas serras! Terras de Sóis, estrelas miradas Artes passadas Que em seus montes, ó serras! Que em seus montes me Aqueça este inverno Nas constelações Torres das pontas góticas de uma capela De todo o meu poema guarde E ali, ali No sacrário que me inspiras a escrever Musa que aquece o coração Da neblina, da fumaça do mundo inteiro Escreva ao menos uma letra da verdade Uma pequena coisa daquilo que passo Da minha alma que presenteio Mundo inteiro Mas, sei, ora sinistro, funesto ou surdo mundo Que jamais preciso dele uma resposta Mas, que eu, Musa Sofia O ajuntarei de perguntas O questionarei nos poderosos, nas coroas e jóias E buscarei nos passarinhos, no orvalho Na rosa Ou no ônibus de manhã, no salgado da padaria Alguma prova desnecessária Apenas porque já está lá No meu peito Que toda a real poesia da alma Já encanta um pouco o verso inteiro Queima cabeça! Queima! Que de sua fumaça, me faz verso!
Olho para gente ao meu redor Vejo montanhas e oceanos Mas, vejo apenas Não sinto Há apenas matéria nessa gente Essa modernidade evoluída Foi do fora, pra dentro e diz que dentro Não há nada Não mais motivos para ser você Apenas mais um Não apenas aceitar ser pequeno Mas, ficar sendo pequeno Mínimo, calado. Em seu lugar Aceitar o que te dizem e revoltar-se Do jeito correto, naquele ou outro Caminho Te chamam de burro, vagabundo Ou romântico E deve ficar quieto Não existe eu, não há fora e dentro é aparente Tudo um jogo de espelhos, prisão ou depressão E no vale de lágrimas, a maior parte Das mesmas coisas, do mais do mesmo Você se aquieta, você apaga. Morre No deserto do que os outros dizem ser correto Errado, injusto ou até mesmo... Real Mas, o real te bate as tripas Te aparece nos momentos chave Em que heróis do cotidiano Dos feitos de pequena escala, mas de profundo toque Dependerão de você Então, o mundo cala Ele não ajuda, envergonha. O nada não serve a nada Apenas a si mesmo O falatório do meio, dos doutores, televisores Alguns amores Nada te ajudará quando o Real te demandar: -Seja agora, ou cale-se para sempre!
Pois, quanto falatório seu espírito aguenta Antes de virar um calado Pó de sapato De alguma montanha agorenta?
"A sorte favorece os audazes", li uma vez Enquanto atravessava de navio, um canal Perdido no tempo dos meus pensamentos.
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Um Quixote sem escudeiro Um homem num deserto de gente Coberto de poeira, sua preguiça do mundo Seus mestres, apenas trouxe decepção ou ranger de dentes É poeta, porém ruim É artista, porém frustrado em outros caminhos Nada tem de muito valor Nada fez de muita coisa Nada fora do mundo do básico, do discreto e até fácil Serei nada? Talvez Mas, sua obra pode ser apenas estender a mão Apenas ouvir Apenas falar o que tem de ser dito E isto, meu caro, seus diplomas e fariseus não darão A paciência O silêncio respeitoso, numa modernidade que apenas Valoriza o grito, o militar e o reagir A ajuda é necessária e a estrutura se faz Resistindo Resistindo a si mesmo, ao maremoto do mundo A fúria de si mesmo Ao abraço que aquieta a dor do outro, mesmo que por segundos Um cavaleiro não se faz apenas de espadas Mas, em andar e errar Aceitar ser errante Lutar em combate quando mesmo o espírito se fragmenta Em lágrimas Em injúrias de si contra si Continue, continue a viver Segure mais um pouco Sustente mais alguém, levante mais um caído Caia, mas, ajude Do jeito que for Se apenas puder escutar, se apenas puder caminhar com outro Faço-o E seu existir, fará sentido pra ele "Abster-se de si, enxergar o outro" Li em um escudo uma vez, num campo de batalha Sempre vindouro ----
Se eu pudesse dar um pequeno conselho de escrita, diria: não mate o seu narrador interior. Não permita que coisas como a escola (universalizada, ou em raros casos, em grupos fechados), os amigos ou pseudo-amigos, os jornais e especialistas - falsos ídolos de idoneidade, destruam a sua capacidade de ler e escrever o próprio mundo, seja por imagens ou figurinhas, cantando com a família ou discutindo com humor numa mesa de domingo, nos causos intermináveis. Sua vida será sua, ela pode ser uma prisão ou um castelo, pode viajar ou lutar em cada minuto, mas, é sua e responsabilidade sua, ser capaz de narrar a si mesmo e não escapar e deixar-se levar pelo falatório, demoníaco, de quem não tem nada haver contigo, mas, pensa saber mais ou que tem o direito de ordenar a vida, não te dar conselhos, mas, ordens.
Escrever um texto decente ou minimamente comunicativo, algo que nunca fiz direito, ou que evito reler por sempre achar incompleto - a vida é incompleta, e é bom que seja assim -, passa por esta capacidade de criar o que existe em uma dimensão nova, diferente. Não é pensamento, nem crença ou fé, é transmissão, é palavra, imagem, é agir no papel passivo para criar um despertar em quem lê. É contar a história ou estória viva, lançar das palavras todo o sangue e ossos, arrasar pelas frases sua ideia, suas memórias contidas e trabalhadas. Lutar, escrever é uma épica aventura de si mesmo para o outro.
E se você não observa ou sente o outro, nunca poderá escrever algo decente ou, até mesmo, falar algo que preste. Poderá fazer outra coisa, várias coisas, o mundo é diverso e pleno de várias atividades, porém, narrar algo, não serás capaz de fazer, talvez em outro momento, quem sabe? Quando seus olhos abrem e você vê aquilo que está fora, poderá escrever sobre o que está dentro e narrar a mínima folha caindo entre o Céu de infinitos grãos de estrelas, como a mais fantástica coisa contida do abraço de seus pais até o tempo de abraçar seus filhos, da ida a escola até a ida para o túmulo, do ver aquela pessoa até beijá-la, naquele dia, na chuva.
Escrever é narrar outro, sabendo que é você, o responsável por aquele mundo, de frases, suspiros e, quem sabe, bocejos. Narração sua, guarde-a, lute-a, faça-a.
Um leão enjaulado por si
Agora, fraco e pálido em algo que nunca foi
Enforcar-se na corrente em sua pata, má ideia seria?
Menor vergonha de si para quem importa
Maior paz por achar destino rápido
Olhos de uma profundidade anímica
Vejo um leão em si, enjaulando-se num circo
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"A experiência que tenho mais próxima do articulável através de palavras com a música é a da sintonia. Não compreendo muitas línguas em seu sentido e significado estrito, mas, sinto que existe, através da música, sua sinestesia ou capacidade cinematizar os sons, uma ligação, uma sintonia. A partir do momento em que se domina várias línguas, sinto que esta capacidade vai diminuindo ou se estreitando, parece ir direto à instrumental, eletrônica ou concreta. O homem comum parece ter mais sintonia com o som que o douto, talvez."
--- "Uma pessoa que entrou em guerra consigo, com sua própria mente. A batalha que não termina com a consciência de si"
A poesia está no silêncio
Do olhar perdido de um horizonte
Aflito, apaixonado ou
Na ironia de cada dia
Em seus braços nos levando
A vida
E cada esquina que passo
Cada cheiro, toque que tenho
Estou lá
Na minha presença de si
Consciente em algum nível
De minha estrofe interna
Meu verso amarrado, atado ao peito
Minha âncora fixa entre a palavra não dizível
E toda a estrada entre eu e você
Que me lê
Pequeno leitor, de um mínimo escritor
A poesia está no silêncio do grito
Sufocado do silogismo, lógica épica
Canção de março, água de abril
Frio do inverno, amor de verão
No seu abraço, ah, naquele mesmo
Na memória, na lembrança
Que é calada
Mas, que guarda
O mundo inteiro
A minha presença, agora velho
Enrugado e sereno
Entre as rabugices, entre as fúrias juvenis
Vai apagando uma ou outra coisa
Vai deixando
A memória, eu
Minha presença vai ficando quieta
Me torno poesia
Me tornarei estrofe dos outros
Alguns me amando, outros me odiando
Mas, eu, enquanto a um velho cão neste mundo
Abarco ele inteiro
Observando-o, de revesgueio, canto de olho
Silêncio
Da poesia
À memória
À história
E filosofias
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Cada homem vive em contar sua história. Se não pode resgatá-la, se você simplesmente a odeia, se coloca-a sobre a esfinge de sistemas ou condições simplesmente materiais, alheias a você e sua responsabilidade, já não está mais neste mundo, mas, apenas grita e chora nele, em um amor pelo desespero. Busca matar deuses, pois você em si já não reconheceria nada ou nenhum deles, sua história é meramente um dado, uma estatística, um verbete de enciclopédia ou alguém que poderia ser lembrando apenas num momento sem emoção, ao lermos algum obituário antigo.
-Morreu hoje, fulano de tal, uma boa pessoa
Não tente mudar o mundo, não é necessário ou possível e apenas te representa o ego que alguma ideia lhe pôs e você acredita que elas estão fora de sua cabeça, na fala dos outros. Busque contar sua história e ser uma pessoa que tenha medos, arrependimentos, algum carinho e virtudes que possa guardar em seu tesouro.
Pois, talvez o que se chama espírito apenas seja a arca que abarca meu mundo. Indizível, mas, que conto, ponto a ponto, nas minhas histórias
Ato de destruir leva pouco tempo,
Termina com obra longa
Confiança, um castelo, um Império
Tudo cai rápido, mesmo que demorado
Mas, a memória, algo fica
Permanece, algum sorriso
perdido no canto do rosto
Alguém olhando perdido um espaço
Um lugar qualquer, cheio daquele
significado perdido, permanente de sentido
Esquecer não é destruir
É calar
Descanso, depois da vida
Terá caos, naquilo que já vivo?
Amar é perder-se
Ou descansar eternamente?
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No toque de suas mãos, completo Meu olhar no seu Inteiro, descubro cada mistério Escondido no seu corpo Contido em sua história Meu pedacinho brilhante de memória Meu momento crescido de fascinação
Mas, estava apenas ali Na sombra ausente do passante Naquela rua chuvosa Naquele aceno em algum ameno Aperto do peito Saudade, saúde, momento
Cima, embaixo Descubro na aventura de dois Sendo um, eu mesmo Algum caminho feito a pares de passos Na poeira da cidade perdida Na trilha da montanha Naquele pôr dos mil sóis Entre dois olhos Completos
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Em algum canto de lá Uma moça sentada, perdeu os olhos Nos meus Sai da sala, ela não mais lá Estava Estando num ponto qualquer Algum canto de cá Quentinho no peito
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Solto Num vôo cadente Entre os lábios, sou palavra Poema contente Ou tragédia latente Ruído em ironia Ou grito da epopéia Romance de alguém, pira incendiada Prometeu que leva a luz sagrada De algum versinho galante Pra você, pra mim Perdido entre alguma flor Sol adormecido numa lua acordada
Palavrinhas em verso Rimas de sorriso de canto dos olhos Valorize o que te guarda, não o que te usa Abraça o que fala com você Não o que fala de si por você E em uma ou duas palavrinhas Um amigo agradece cruzar seu caminho
Não lute com o seu passado, ele sempre vence. Tente conversar, o quanto a aguentar o seu espírito
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Tristeza De ser quem tu és, de estar onde não está De nada ver em seus anos que Punhados de areia perdidos Entre atos e omissões Nada a mais Tudo a menos Contudo algo, entre símbolos e poemas loucos Reside, resiste Neste corpo de vinte e tantos Tão poucos, tão tantos Anos. Parabéns, poeta perdido em seu tempo.
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Alguns lutam e ficam nas sombras, para outros brilharem
Personalidade/Memória
Eu sei que sou pelo que fui
Eu sei que sou pelo que fui fazendo
E sei o incompleto do que fiz
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Sopro Em meus passos, atrás das orelhas Passando pelo correr de sangue do pescoço Sopra Da memória, me escapa Aquele dia de sol ardente Mas, brisa fria Correndo, soprando Alma de meu caminho Estrada de minha história Sopro Agora fraco, agora frágil Entre os braços escapo Alguma lágrima de algum outro lugar Algum em outro algo Alguma outra brisa fria, num sol ardido Alma do meu perrene e agora Pouco ar Pouca alma Mas, movimento Entre minhas idéias, um alento Entre os ares das páginas de livros Um caminho No meu auto-amor, um robô Movido por sopro Ora suspiro, ora palavra, ora afeto
Hora que a alma vai, com sopro De uma beijo Dá as memórias Da melancolia à melhora Ainda sopro Ainda respiro Entre os braços
"O Real me dá asma", disse Cioran
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Às novelas Dos ventos da noite Que adormecem meus pés Mancham meus dedos Nesta sujeira do inverno Nesta neve suja, que enerva Entre pensamentos, atos e omissões
Tormento de um resfriado Grito de algum vizinho Latidos de cães para os gatos Eu, sou aquele felino Observando tudo, correndo por aí Na noite No véu da noite Te respiro, doença que é Esta vida, as vezes Outras, umas tantas Pequenina aventura diária De um gato preto feiticeiro Caminhando entre as colinas de concreto de uma cidade Qualquer Poesia barata Guardada no bolso, olhando Entre os rostos perdidos do desterro Algum futuro barato, vendido por aí Algum latido embusteiro Algum aperto no peito
Doença no inverno, sujeira do tempo Correndo entre o relógio Como as patas do gato preto