segunda-feira, 23 de maio de 2016

Um barco posto na praia

Um barco posto na praia
É assim que ele se vê, é assim que ela se vai
A estrela que brilha última da manhã pra virar novo dia, d'onde o sol nasce
É nisto, que se resume agora: dia que não é mais dia, apenas sol que levanta
Baixa
porém, não para
Porque ainda estamos aqui, ainda estou aqui
Visualizo fotos, vejo imagens, pinturas antigas, nada tenho pra contar aos detetives
Que se tornaram meus amigos e parentes
Apenas que nada existe mais, nem dor
Ela vem numa pontada as vezes, uma agulha, seca e áspera
Algo assim, algo que chamam de saudade
Mentira, ninguém que ter saudade disto
E o barco continua na praia, esperando
E eu aqui, com um nada preenchendo aquele lugar na mesa
No sofá
No cinema
No berço
porém, não para
Os anos passam, a vida passam, hoje tenho Felipa e Manuel, amo todos
Mas, engana-se quem diga: amor é coisa boa
Amamos também as coisas que jamais tivemos, ou aquelas que apenas por um breve
momento, apegamos
Jamais vejo aquele barco no mar novamente, ele pode estragar sua madeira, se dela
Não fosse feita minha memória
Visito o túmulo de meu filho(a) hoje
E pra ti não desejo isto nunca
Virou minha frase cheia de fel, aos desavisados com falso consolo
Pois, aos que entendem, sabem o que dizer:
que aquele barco da praia no dia que nascer não continuou a pescar, não sai.

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