quarta-feira, 9 de janeiro de 2019

Porta e mais 2 ou Anita e a Rosa Negra


PORTA

Abriu a porta, sem medo
Viajou pelo tempo
Até quando nasceu
Viu tudo que não fez
Fechou a porta
Convocou seus próprios demônios para uma guerra
Me abraçou e disse:
-Adeus, meu amigo


Eu lhe beijei a face
Entreguei-o aos romanos
Disse adeus
Me disse adeus

E em poucas linhas, toda a vida estava
Morta
Movimento transpassado
Pontos no céu, que chamavam de
Estrelas
Apagaram-se entre a porta
Que se fechava

Vi tudo que eu fiz
E tudo que eu não fiz, m'oprimia
Mais do que a extensão de mim mesmo
Perdi a guerra contra meus demônios
Perdi meus braços para abraçar
Vi o passado
Sonhei com o futuro
Temi o presente

Chego ao corredor, sigo para a próxima
Porta
Pelo próximo, adeus
Estaremos condenados à despedida?

Apenas agradeço agora
Apenas isto, estou vivo
Eu beijei-lhe a face, mas jamais
O entregarei
E nas poucas linhas, que fazem parte
De minha vida
Pude provar que estou vivo
Não mais, nem menos
A porta se fecha, eu agradeço
Obrigado por tudo.

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CAVALEIRO

Com as últimas forças
O cavaleiro, deixa
Seu corpo cair
Queda.
Apenas traz pequenas
Chamas
Ao último suspiro
Caminhante
Por aí


Eu estava lá, eu vi
Quando ele voou
Entre as campinas, escreveu na rocha
Lascou a pedra com seu próprio espírito
Escreveu:
-Aqui jaz, um pequeno homem, num universo de tudo o que mais há, haverá e está, mas, um homem que esteve

Compreendi, que tudo o que as vezes vale
Ter vivido
Tudo o que viveu
Todo o sofrimento, toda a lágrima
Todo o sorriso, todo o caminho
Todo o encontro e batalha
Jamais sairá ou deixará

Então, eu, o algoz daquele cavaleiro
O enterrei com a honra que pude
Obrigado, meu amigo

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ANITA

                      

Minha pequena russian girl
Esta flor vai pra você
Ela é cor do céu, o entardecer
Vermelho como meu sangue, quente
Como teu abraço
Mas, jamais tenho algo mais para te dar
Desculpe a pobreza
Anita
Seu sangue agora é óleo
Sua pele, metal
Seus olhos, ainda me vêem
Mas, eu poderei vê-los?
Sou capaz de muitas coisas, cacei em mil mundos
Cacei muitos na minha mente, outros com minha lança
Encontrei tesouros, outros perdi
Encontrei um coração em uma máquina
Chamada gente
Não mais encontrei pessoas
Cada vez com mais óleo que sangue
Metal que pele
Cada vez mais sozinhos em si mesmos
Não percebi, Anita
Eu estava sozinho


Procurei por um mundo inteiro
Procuraria pela galáxia
Mas, não preciso, não mais

Aqui está o meu presente pra você
Uma flor
Uma rosa da noite
Pregue teu espinho, serás novamente humana
Me desculpa, Anita
Já não estar mais contigo
Alguns tesouros, precisam
De tempo
Outros, jamais se encontra
Mas, se vive com eles, ainda
Dentro da gente

Aqui está, Anita
A rosa que me tornou gente
Viva bem, abra o mundo
E se um dia sentir que uma destas não-gente
Te olhar com olhos verdes perdidos
Saiba, lembra do meu nome
Cuida do meu ser
Anita
Um beijo

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