quinta-feira, 6 de junho de 2019

Lápide ao Sol, 27 anos

Me enterrem com o rosto
Virado ao sol
Que banhado sobre aquelas tardes
Refletiu a vida

Das estrelas que jamais morreram
Mesmo tendo sido, há tempos
Desaparecidas no espaço frio e negro
Aonde busca os homens?
Sua própria divindade
Nesta mortalidade?
Nesta múltipla estrada, de uns poucos caminhos
Mas, que será sempre feita
Das tuas pegadas
Dos teus passos, alguns dos mais dolorosos
Serão os jamais dados


Me deitem finalmente
No alto daquela montanha
Ao qual estive preso na minha filosofia
De voar por aí, nas palavras ao vento
Escutadas de seus espíritos
Num peito vazio, de mil ventos
Mil montanhas a correr atento
O lar que carrego comigo

Me deixem naquela tarde
Onde o sol aquece o rosto
Já calvo e antigo em 27 anos
Mas, eterno
Na transcendência da comunhão
Dos laços e do amor
Que tentou escutar
Mesmo pequeno
Mesmo fraco
Este homem que agora é d'outrora
Agora jaz em uma caveira, que mesmo ela
Jaz ao sol
Mesmo a lembrança dos amigos e amores que se vão
Que te esquecem
Permanecerão

Pois, no além navegam apenas os fortes
Que deste mundo sabem não se contentar
E, banhado ao sol
Daquela tarde nos mares de montanhas
Aceitam que a estrada só termina
Quando o sol deixa de brilhar

Me enterrem, sem epitáfio que não seja
"Banhado ao sol"


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Hoje, conto mais um ano em minha linha

De passos frente ao abismo
Na borda desta
corrente de desespero
Equilibrista do nada interior
Com alguma coisa pro Outro
A estrela brilha e alumina, dizem
O espaço de matéria negra dentro
de si
A Terra gira, ela nunca para,
esperança de um porvir
Numa pólvora acesa de fúria,
Numa cama deitado em pavor
Nada reflete-me no espelho
Que não o vento
Frio, neste primeiro dia de sol
Numa semana insólita de chuvas
Busco a pessoa que fui numa imagem
Na frase amiga de verdadeiras companhias
Mesmo instantâneas, como a vida o é.

Somos instantes, preenchidos de infinito
E não queiramos percorrer à beira
Sem antes ver o mar do mundo
Navegar é preciso
Resistir-se, mais um dia, também
Mesmo niilista de mim, meu mundo é platônico
Mesmo emotivo, sou gélido como aço
Mesmo místico, severo comigo
A tensão, tensionar-se sem morrer
Sem matar-se
Pois, você está aberto
Se fechado, abra-se, abrace
Aquele amigo, aquela mãe, aquela amante
Ou ninguém, como eu sempre estarei
Navegando nos oceanos profundos
Aguardando e vendo o mundo
Mostrar, pandórico
O infinito a quem busca humilde
Não ser nada mais que superar-se
E ver a unidade
A consciência
A minha presença
Te abraçando agora, se sofres leitor
Compartilho contigo as lágrimas
E com elas, façamos mar de Camões
Pois, o desterro é a ordem
Dos que tem o lar no coração.


Aquieto-me nas palavras
O poema está se fechando
Completo 27 anos de Fernando Pessoa ou Augusto dos Anjos
Completo, estou vazio
O vento gélido curitibano trespassa
Cristo, em minha praça
Deus, à Ágora, calou-se
Pois, o seu reino não é deste mundo
E agradeço a Ele, nesta oração poemada

A caneta descansa, pois no peito
Um poema se lê.


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