quarta-feira, 7 de maio de 2014

Teoria Blondiana da Moral

  (veja o filme, não veja o final só!)

Primeiro, isto é um exercício, não é e não será por muitas décadas um exercício de Filosofia, nem de Sociologia, muito menos da Político-economia que se pratica na Humanidade baseada nas Potências dos indivíduos ora perdidos numa coletividade caduca, ora elevados a condição de sábios de um Destino que lhes é aplicado.
 Logo, início meu argumento dizendo que esta teoria se baseará não em um livro, nem em um autor, nem mesmo em um texto de letras, mas, em um filme: Três Homens em Conflito (Il buono, il brutto, il cattivo), de Sérgio Leone, dos anos sessenta do século XX, calendário de Cristo. Não estou inventando a roda ou algo do gênero, pois, não escrevo novidade nem uma interpretação fora do meu contexto caduco, porém, não posso deixar de realizá-la nem dela ser minha, em um sentido de Nietzsche de indivíduo e obra, porém, mais no que posso chamar de "minha condição individual" interpreto a moral humana que fui confrontado até agora em três pontos, condições, categorias (ou não), gêneros, sexos, diferenças.
 Ponto 1: o ser humano cria diferenças, porém, qual é a origem das diferenças? Encontro assim meu primeiro tópico, o Bom. O Bom é o igualmente, o meu, o teu, o nosso. A alteridade é aqui, mesmo que haja o tal respeito antropológico (racista ou racialista, de certa feita), a visão do outro como outro, logo, ele não sou eu, logo, pressuposto, não é do Bom. O Bom não é mérito, mérito origina da Condição de alguém, não do nosso. Logo, o Bom é ecológico, forma sistemas, estruturas, categorias, epistemas (quando já velho), paradigmas (os "cientistas" de hoje gostam desta palavra hoje aqui no Brasil), ou seja, ele Mantém coisas, elementos e ideias. Ele sustenta biologicamente as coisas.
 O Mau, logo, deveria ser o contrário do Bom, não? Ele não mantém, ele é o Caos, ele desordena, é a Quebra do Paradigma, não? Ele é o Outro, o não nós?
 Não.
 O Mau é aquele que é a Mudança, porém, não é a Mudança em si, pois, esta é tão efêmera e dura tão pouco, que é quase irregistável: a História, assim, cai na condição de Falsidade? Não, mas, da ficção ela é irmã, como já dizem muitos pós-caducos hoje em dia. O Mau é uma condição abstrata, ele é virtual, ele não existe de fato, ele se adquire como uma forma determinada com certos discursos, porém, é metamorfa quando o tal objeto que-não-é-Bom modifica-se.
 "-Ora, não entendi"
 Explico: o Mau é aquele dos Olhos-de-Anjo, ele adquire a condição de Pairar sobre o espectro da Moral como em semelhança a Tentação Cristã, porém, ele tem sempre caras e bocas, ele não é para o Inferno, ele não é o que podemos chamar de Ruim, mas, ele é a Condição da Mudança, que, quando muda, passa a ser o Bom, o Novo Bom.
 Isto não é dialético, porém. Não existem expirais malucas pairando nas nossas cabeças que não sejam colocadas lá, por uma tradição Newtoniana, Galiléica, Zaratrusta (não a do alemão bigodudo), o Mau pode ser discernido do Bom porque eu posso dizer que ele não é a nossa ideia, nosso estilo, nossa tribo, nossa economia-modelo, porém, ele de fato não é nada, é uma Condição. Talvez, o Mau seria a Utopia? Não sei, o sonho é por si só ficção, porém, não posso dizer que o Mau seja Utopia, mas, que a Utopia pode estar no Mau.
 O Feio, ponto 3.
 Finalmente, o que condiciono, aquilo que eu doto de alto. Você é baixo, você é um cachorro! Você é bonito, feio, lírico. O Feio condiciona as coisas através de Mecanismos do Bom, porém, sempre com a Presença do Mau: com o Feio, eu entendo os outros dois - pois, logo que o Bom Permanece, o Mau é Presente e, ambos, são condicionados pelo Feio.
 O ato de dar o sentido, não só cognitivo, nem sensitivo, nem biológico, é fruto de várias discussões do hoje em dia deste texto, vários ditos têm sobre isto, porém, nenhum que ainda possa dotar o humano por causa da Condição Individual do Feio: ele é aquilo que dota algo de si mesmo, logo, as coisas não são dotadas por si mesmo de algo. Então, como existe Mau e Bom? Pois, isto nada tem de condição ou funcionamento mecânico. Nós, desde que fazemos coisas com pedras lascadas, bambu e naves espaciais, sempre precisamos da mecânica da "Condição leva a Efeito", não, isto não possui uma Lógica neste argumento que apresento (neste trecho), pois, a questão de se dotar algo pela questão do Feio, não está em ritmo com colocar a letra A leva até a letra B, o Feio é aquele que, de fato, condiciona os elementos, Bom e Mau, a agirem em certa medida, porém, o Mau, o Bom e o Feio existem uma interdimensão dificilmente não intercalada, dificilmente, não categorizante ou divisora que não anule a existência de duas, ou mesmo, das três.


sexta-feira, 18 de abril de 2014

Distribua o ódio por aí

 Aristides era um homem com uma dúzia de ovos na geladeira vermelha. Não aceitava bem o romance pela vida que os outros europeus, como ele, gostavam de ver em tudo, o dramalhão da vida moderna, seu tédio incontrolável e também como tudo tinha o sentido de ser extremamente tedioso e sem sentido não lhe interessavam. Aristides era um homem bom, apesar de não ir numa igreja.
 Então, durante um dia em que via desenho animado, teve a ideia de que poderia ganhar muito dinheiro se construísse algo realmente útil para a Humanidade que não fosse máquinas que curassem câncer ou uma nova ideologia para jovens se matarem. Aristides conseguiu, com o uso de alguns fios, placas de eletrônicos e um acordos com forças como a Sombra das Pérolas, fazer algo lindo e que poderia nos ajudar em vários momentos de nossas vidas: a máquina de ódio.
 Mostrou para Mariane, que ele pegava nas horas de café do escritório. Ela sempre odiou Júlia por ter um corpo melhor, Ricardo por ter lhe deixado e Felipe por ser um mau pai. Então, ela usou a máquina, abriu-a e, como disse o seu criador, pensou em todo o mal que sabia e queria e... Pronto! A máquina guardou todo o sentimento de Mariane e ela se sentiu leve, mais bonita e amada.
 Casou-se como Aristides em dezembro, mês das noivas. Eles eram felizes, ela nunca falava nada ao contrário do que ele queria e ele também podia fazer o que quisesse que ela nunca esquentava, "tudo esta bem, ele me ama".
 Ricardo era chefe de Aristides e sempre cobrava o fato das suas roupas desalinhadas com o tédio in office e seu horário atrasado nos eternos quinze minutos que nos separam da cama, o banho e o metrô lotado de gente. Aristides, porém, sabia que Ricardo era um homem ambicioso e desejava crescer, ele era detido pela política atual da empresa e da Economia (sempre em crise, não?). Numa das broncas, depois do almoço, Aristides perguntou para o chefe e seu bigode se ele gostaria de mudar sua vida, conseguindo tudo que quisesse quando não mais odiasse o que fazia. Ricardo, disse sim, claro.
 Ricardo, dizendo que ia ficar na hora-extra, encontrou com o homem e sua maleta cheia de engrenagens dentro, olhou lá pra dentro e, se sentiu mais leve. Dentro dos dois anos seguintes, Ricardo havia deixado a empresa em que trabalhavam, deixando seu cargo para Aristides. Montando sua própria empresa, o homem se tornou um dos mais meteóricos sucessos daquele ano. Se jogou do alto do seu prédio empresarial em dezembro, creio, sorrindo.
...
  Comprou, com o novo emprego, um terno cinza e novo, menores nas mangas e tal. Aristides estava feliz, porém, não tinha muito o que fazer nos meses de festas de fim de ano. Era sempre aquele caso de ir pra casa dos pais velhos e cheios de rancor... Dois dois lados. Então, resolveu animar um pouco a vida da família, depois do jantar, chamou os pais e os poucos irmãos e distribui a todos eles cartões com números, disse, tirando a sua pasta com a Máquina do Ódio de uma bolsa:
-Agora, vamos ver quem vai ser mais feliz!
 Tirou o pai, a mãe e depois a irmã. Todos iam num quartinho dos fundos, pensando em tudo que acontecera. Nunca as festas foram tão boas, Mariane estava grávida, seu pai se curou do câncer e largou sua mãe, que casou com o médico da filha, Felipe. A alegria estava instalada no outro fim de ano, de dezembro.
...
 Passara-se um ano sem que Aristides falasse mais da máquina, ele estava até que bem, com aquela criança chorona, a mulher silenciosa e o emprego dois cargos superior. Porém, um dia, precisaram sair e uma babá veio para a casa deles, acho que o nome dela era Lilica - belas pernas em botas e arquitetura: aconteceu na terceira visita.
 Ela se sentia horrível com tudo aquilo, estava gostando do velho Aristides ponta firme. Ele, porém, não queria largar a mulher tão cedo, filho pequeno e deveres morais. Então, ela disse que o odiaria para toda a vida, ao que ele respondeu:
 -Podemos mudar isto, sabia?
 -Como, Ary? Como? - Gritava
 -Assim... - Ele tirou do baú do quarto do casal a pasta, trancada com a senha 251.
 -O que é isto?
 -Algo para você esquecer, meu bem...
 -... Droga? Não posso hoje, tenho prova.
 -Não. Não sou disso, minha lindinha, olha aqui...
 Abriu a maleta e as engrenagens douradas e rubis começaram a tremer com o movimento:
-Olha e pensa em mim... Faz isto, por favor, e nós estaremos bem para sempre! Sua linda!
 Lilica olhou, com a cara inchada do choro e da noite. Disse:
 -Esta bem, entendi.
 Arrumou-se, foi embora e Aristides sorriu.
 Mariane chegaria no outro dia, velho Felipe morrera e tal. Ela chegou de preto, porém, se sentindo pesada, estava estranhamente olhando as coisas mais cinzas e 3D, tudo parecia, também, mais colorido, as coisas pareciam importar mais... Ela daria um beijo em seu filho e, bem, Ary estivesse lá, nele também.
 Subindo e entrando pelo apartamento, viu algo estranho, tudo parecia mais colorido... No quarto, um enorme escrito em vermelho sangue por toda a parede:
 -ARY, ME PERDOA, MAS PENSEI EM MIM E NÃO EM VOCÊ
 Aristides não estava mais ali, a pasta estava aberta e as engrenagens todas paradas, a criança dormia no outro quarto.



 
(Keaton)

sexta-feira, 4 de abril de 2014

Sobre portas com tijolos

Algoro prometeu para si mesmo que nunca mais entraria numa fria como aquela de novo, não acabaria por se ferrar como se ferrara daquela vez. Entrou e saiu, e era isto, em um pequeno ponto do espaço da superfície terrestre, ao qual se ocupa a Geografia, se juntara com um ponto da abóboda celeste, ao qual os astrólogos rendem homenagens noturnas em seus telescópios.
Algoro tentara, em vão, abrir a porta daquele seu quarto imundo, dando de frente para uma parede, a janela, sempre com a mesma paisagem, congelada, também não lhe era permitida pular: era um fundo de papel, atrás, mais parede.
Sempre era fim de tarde, uma hora do dia que Algoro gostava, porém, que agora lhe rendia o ódio eterno, pois, nunca deixava de ter o quarto do apartamento aquela cor laranja sonolenta - não mais renovadora.
Tudo tremeu.
Então, o homem de terno riscado abriu a porta e por ela uma luz saiu, cobriu todo o seu corpo.
Lá estava ele, no Mundo novamente, uma linda moça de olhos verdes, de roupas antigas de arqueóloga o olhava:
-Minha nossa! -disse ela - Então, é verdade! Vocês existem mesmo!
 -Sim... - Respondeu Algoro, enfadado - "Quais são os teus desejos mais profundos, teus amores mais secretos e tuas vontades mais aberta?"
 -...
 -Diga logo, quero acabar logo com isto - Algoro não aguentava mais a luz do Mundo, ele vivia sempre na mesma tarde de 2014...
 -... Meu Alex, ele morreu para nós chegarmos aqui... Foram os caingangues e seu maldito pajé e...
 -Não me importa! O que quer com isto?
 -... TRAGA ELE DE VOLTA!
 -... - Algoro pegou algo que ele, com seus olhos doloridos, pensou ser um galho, suas unhas cortaram a madeira até deixá-la na forma de uma hominídeo. Disse: - Está feito! - E o boneco pegou fogo.
 Então, como um flash e sem dizer adeus, Algoro voltou para seu lugar, a sua tarde.
 ...
 Acho que não se passaram nem alguns dias, ou séculos, tudo tremeu novamente.
 -"Quais são os teus desejos mais profundos, teus amores mais secretos e tuas vontades mais aberta?"
 Havia ali um homem, ele estava vestido como um explorador, como aquela dos olhos verdes, só apenas de camisa... A última que vira. Ele olhou para ele com uma cara de fúria, em suas mãos, uma navalha ensanguentada, chorando, disse o homem:
 -... Eu tive de fazer isto... Sei que Aline nunca usou o seu poder corretamente... Mas, enfim... Ela era alguém que... - E lacrimejou - Eu amava... - E chorou.
 -Fale logo o que quer!
 O homem o olhou com uma cara de louco, pegou sua navalha e cortou o peito de Algoro. Não saiu sangue, mas, gás verde:
 -Não pode matar algo que não é deste mundo... - Sorriu Algoro, deu um safanão no homem, que desmaiou na hora.
 Ficou naquele lugar iluminado demais por cerca de uma ou duas horas, até o homem acordar. Nisto, como não conseguia andar muito pelo cômodo em que estava, apenas viu algumas coisas, como, a casa bagunçada, uma carta na mesa, a foto do homem com a moça de olhos verdes que vira antes... Tudo desinteressante para Algoro, queria sair dali...
 O homem, que Algoro colocara em um sofá, acordou, assustado por ainda estar vivo:
 -Você tem de pedir primeiro. - disse o homem de terno riscado para o desesperado.
 -... Eu, eu quero...
 -Diga
 -Eu quero nunca ter conhecido Aline... Quero ter ficado com Paula, ter virado um professor de escola, como queria nos meus quinze anos!!!
 -... -Algoro observou aquilo... Era algo grande. Mas, o fez: ficou de frente para o homem, meteu a mão em sua carne, arrancando-lhe o fígado, aonde estavam todos os sentimentos. O pedinte caiu aos seus pés, gritando de susto, não de dor.
 -Agora, se você não conheceu aquela moça, ela não deve morrer... - Algoro puxou um pequeno fio de cabelo seu e sobrou ao vento.
 -Esta feito - disse e voltou para seu mundo.
 ...
 Finalmente, passou-se vários séculos, talvez, pois, ninguém tinha mexido com Algoro ainda. Tudo calmo e quieto, ele pode contar pela enésima vez a quantidade de tábuas no teto, quantas baratas misteriosas moravam ali e ouvir o lamurio de suas próprias lembranças.
 Tudo tremeu, então, como sempre acaba acontecendo, Algoro tinha uma vida rotineira, como se vê.
 -"Quais são os teus desejos mais profundos, teus amores..."
  Um dedo feminino pintadinho de roxo nas unhas o interrompeu, por um instante, pode ver o rosto que fizera aquilo: a mulher que ele amava, com seus olhos de tão negros que são azuis e cabelo de caramelo...
 -Oi, Gogo!
 -... Você...
 -Sim, sou eu... Finalmente, finalmente te achei! - As lágrimas corriam o rosto da jovem, logo, ela abraçou-a e começou a ter algo estranho, algo, talvez, sentimentos? De novo? Esta coisa ruim que pesa no peito e no pé do olho esquerdo.
  -O que você... O que vai pedir? - Disse o homem de terno riscado.
 -... Te amo, meu Gogo... Mas, você naquela tarde pediu para libertar aquele homem... E, nunca mais voltou... Então, meu Gogo... Me perdoe...
 A moça chorou, então, saiu de uma quarto um homem com tipo... Tipo explorador; pegou no ombro da moça de olhos negros e disse:
 -Paula! O que você fez, Paula? Você mexeu com isto??
 -... Alex? - Perguntou o homem de terno riscado.
 -... Si.. Sim... Mas, o que vai fazer agora?
 Algoro apenas olhou para a cena.
 -Qual é o seu desejo... Paula?
 -... Que seja feliz... Apenas isto - a moça com lágrimas, deu um beijo na testa do gênio. Tudo sumiu num clarão.
 Algoro, acordou em seu quarto de apartamento, levantou-se, contando as baratas no chão e as tábuas no teto. Então, tudo tremeu novamente, porém, agora era de manhã.


segunda-feira, 24 de março de 2014

Namoro Campeão

 A pequena Aquila amava Sumô dos Reis.
Andava desde pequena, com seu pai fracassado e sua mãe indolente pelas vielas da cidade, vendo  algumas lutas e amando a potência dos corpulentos corpos se batendo.
Porém, chegou a adolescência e Aquila quis namorar, pois, não gostava de ficar andando sozinha, já que ninguém mais ia com ela as lutas. Encontrou um namorado, Rufo: magro, falante e mais tolo. Nesta época ela pintou o cabelo de rosa - a cor do Sumô dos Reis - e começou a sentir algo que subia do meio das pernas até a altura da barriga, suando-lhe a cabeça, pôs uma ideia nela: -Quero meu namorado campeão de sumô!
Tentou, então, pôr ele numa academia, haviam várias naquela época áurea em que projetávamos carros voadores. Mas, bem, Rufo saiu no primeiro ou segundo dia, disse o treinador de testa longa: - Muito magro para qualquer coisa, sangue ruim mesmo, voa que nem papel.
 Então, ela tentou engordá-lo: em redes de junk mais do food. Rufo comia, passava mal, mas, não engordava... E já estava lá pela sexta semana de namoro, nem um beijinho, só abraço e mão dada, sonho na cama dele. Em um dia, quando comiam comida árabe com fritas americanizadas, pôs-os-bofes indo correr pro banheiro.
 Aquila, apenas com raiva ficava, queria uma namorado campeão, mas, passou a querer Rufo também, com o calor da barriga: "Rufo Campeão" via nas faixas dentro de sua cabeça.
 Foi na casa do garoto, pois, como dizia sua vó Varia: Vaso Ruim é culpa de Artesão de Mão Ruim. Jantaram um rico peru com salmão que ela comprou de surpresa, junto com fritada que a família já prometera: nada, nada de nada fazia no pai, mãe, irmã de Rufo, todos magros, imensamente magros - via-lhes no branco dos olhos, o outro lado. Desesperou-se.
 Buscou em sites e e-mails perversos para professores de biologia até que, em um pequeno banner que sempre se repetia em suas procuras, resolveu clicar: "RESOLVEMOS SEUS PROBLEMAS! TODOS" e, embaixo, letras miúdas: "Mera Empreendimentos: Sua Rede de Resolver Tudo". Clicou e pegou umas pá de vírus, mas, pôde arranjar, lá pela terceira ou quarta página, o endereço de uma filial perto de sua casa, em sua média-cidade de interior.
 Chegou numa pequena porta, dois cômodos, a secretária pediu para que ela entrasse, já dizendo saber-lhe o problema. Tinha óculos de aros negros e cabelos escuros, era visivelmente ocidental, talvez italiana? Aquila entrou pela porta de rede e viu uma velha cigana, lá, com badulaques e ouros, pediu logo:
-Me dê o cartão que passo aqui, pagamento antecipado!
Fez isto, desconfiada da proposta da resolução de tudo, ao qual a velha, que era muito parecida com uma versão velha da secretária, respondeu:
 -Olha, tudo bem, uma vez pago e feito o contrato, nós realizamos o ato!
Sorriu a moça dos cabelos rosas que já descoloriam, contou-lhe o causo.
 A velha abriu uma gaveta e disse-lhe:
 -Aqui está, pega esta jujuba.
 -Por quê?
 -Ela pode resolver seus problemas, porém, já lhe digo: não é possível amar aquilo que você quer, ou você quer algo, ou o ama. Os dois, é apenas e só impossível, lembre-se disso.
 Quando a moça pegou a bala, a velha disse, com face triste:
 -Você tem calor demais em você, tenho algo pra isto...
 A face de Aquila negou aquilo e, a velha cigana, abaixando a cabeça e prostrando-se ao chão, disse, caminhando de costas:
 -Se teu cartão não aceitar a transação, Morte baterá em sua casa! Ciao!
  A alegria cobriu a face de Aquila e, ligando para Rufo, disse: -Pode ir na Luta Regional de hoje? - Negativo, prova amanhã, de biogeografia. Tudo bem, amanhã foram nas semifinais.
 Estava lotado, como sempre, até eu estava lá, sentado numa fileira a observar a história dos dois. Logo, depois do primeiro combate, Rufo lhe disse:
 -Aki-aki, sabe... Estamos já a quase dois meses, quero meu direito de homem... E sei que você também quer um...
 Ela pôs o dedo em sua boca, levou-o pela mão até uma parte atrás das arquibancadas e deu-lhe um tremendo beijo - o primeiro deles, de verdade, você sabe, daqueles.
 Tremendo a mãozinha, pôs na boca de Rufo uma balinha:
-Muito bafo, meu... Amor...
 Com esta palavra banida, deu outro beijo no rapaz que ficou corado. Voltaram para seus lugares, o rapaz suava constantemente com face esquentada e avermelhada, não parava de pensar em Aki-aki. Enquanto andavam, ele engordou dez quilos, quando sentou, vinte.
 No segundo round da segunda luta, ele berrou:
 -TE AMO AKI-AKI!
 Em pés largos chegou na plataforma de combate, lá, tirou a camisa do corpo setenta quilos mais gordo. O lutador da Zona Sul da Região se irritou com ele, pois estava ganhando: quando tentou empurrá-lo, sua mão foi quebrada, ao seu grito outro veio a sua ajuda, seu inimigo de ringue. Rufo deu-lhe um golpe e arrebentou-lhe a cabeça em dois.
 Aquila, sorriu e chorou, foi até o ringue, levantou o braço e gritou para o mundo:
 -TEMOS UM CAMPEÃO!
 Ainda não, pois, com os dois presos, ainda dois haviam para fazer a final no outro dia.
 Luto na tv on-line nacional, fogos de artifício foram jogados em cor rosa-púrpura das casas com seus canhões particulares. Foi tudo muito bonito, mas, Aki-aki não aceitava aquilo, e, vendo seu namorado na delegacia em única visita pedida por ele, vigiado por dez homens e a espera do juiz com julgamento (possivelmente capital), apenas lhe disse palavras de conforto:
 -Luta por mim? Seja meu campeão?
 E os músculos de mais de cem quilos daquele brutamontes colossal eram fracos para seu coração, que brilhava vermelho como se ofuscasse os olhos. Dez policiais de cabeças arrasadas e uma moça de cabelos rosas sequestrados. Com a parede da delegacia arrebentada, corriam os dois amantes para o Estádio de Sumô dos Reis.
 Em um cenário todo de preto em luto, entra o brutamontes de trezentos quilos a mais de seus mínimo peso. Aos gritos de justiça, vários ex-campeões e os dois combatentes da noite se unem contra o amante - ele põe a amante na beira da plataforma e se lança de barriga.
 No estrondo, pequeno pulo para cima da cadeira. Os campeões vão se rendendo a golpes esmagadores de um Rufo apaixonado que apenas sorri para sua amada, enquanto se banha de sangue e ossos quebrados. Ela, Aquila, vê tudo e... Em uma rápida fagulha, lembra do que a velha cigana disse, então, a própria Aki-Aki grita, desesperada:
 -EU TE AMO, RUFO! - Ela vê o namorado olhar para ela, já estava com mais de trocentos quilos, a plataforma quebrou e ele estava vermelho de chamas
 Sorriu, cochichou algo baixinho pela garganta fechada pela gordura e massa atômicas...
 Rufo explodiu.
"Voa que nem papel" - lembrou-se Aki-Aki agora toda vermelha


Disco Inferno http://www.youtube.com/watch?v=dewzOxQ52kg

sábado, 22 de março de 2014

Pra que escrever ou pensar?

Extremamente ficciocionalizado dentro de uma ampulheta que conta os traços das opiniões sobre a baixa dramaticidade das histórias.
Entretanto, até quanto as pessoas admitem a ficção? Até qual o limite pretende-se ser enganado com mundos de autores? E quando os literários dizem que você não criou mundo algum, mas, que sim, desenvolveu-se apenas dentro de um prospecto de dada época e lugar? Seria nossa vida e existência um mínimo pó de estrela e devemos nos contentar com isto? Qual o limite do Sistema e do Eu? Não acredito mais nos filósofos, nem nos cientistas, nem nos sacerdotes, elas já estão muito seguros de si para pensarem para mim algo que eu realmente acredite.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Olá amigo

"Mas, o que aconteceu com você? Que a todos dizia o que fazer e quando dizer
Mas, o que houve contigo, que, na semana passada, obrigou a pular dum prédio um amigo
Porém, vivo está, chorando ficou, quando de um olhar mais severo deu a ele
Mas, o que aconteceu com você? Que possuía uma coroa de ouro feita pelos gnomos do Passeio Público
Dado pela beleza das suas ordens
Bem, talvez, o que aconteceu com você é que decidiu fazer outra coisa
Decidiu que estava sem sentido e decidiu escrever um novo trilho
No papel branco da folha
E, mais uma vez, pensou ter ordem ao caos
E a todos ordenar
Mas, o que aconteceu com você?
Que pensou que podia voar
E pulou da Ponte do Capanema. Caiu na real?"

(Lucrător Prosper, "Cadeia do Ipê Roxo", Curitiba, 2017)

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Espaço mudo

 Faz tempo que não recebo nada além de uma pequena luz pálida azul que corta minha tela esférica de minha nave. Olhando para o escuro eterno, minha tela projetada na janela coloca pontos e diversos elementos, talvez não tanto para a navegação, mas, para que eu não me mate de tédio.
 Tédio, a grande palavra da exploração de todos os tempos de nossa raça.
 Não há muito o que fazer além de anotar algumas ideias numa tela, tudo é quase que automático e alguns robôs vem e vão, com sua pequenês servil, levando para lá e para cá, arrumando alguns pinos e pontos-fundidos. Dei nome a cada um deles, os dezessete, que, solenemente, não me respondem, sabe, coisa de segurança: colocar voz em uma máquina sem sentimentos é perigoso pra cabeça...
 Então, em uma sinfonia insone, enquanto eu dormia com meu tapa-olhos, começa um tremendo barulho de luzes vermelhas piscantes e amarelas, a cor do perigo. Depois de cinco anos, algo acontece: as máquinas, enlouquecidas, correm de um lado para o outro, sacando facas elétricas de seus gabinetes que eu nem sabia que existiam, a máquina em forma de H põe-se a mexer-se, começa a sequência de ativação dos canhões de plutônio irradiado e dos círculos benzidos de energia eletromagnética, armas mortais. Uma única ordem aparece em toda a tela projetada pela nave, tomada agora de uma escuridão tenebrosa:
-SOREN, SOREN IAMATO, PREPARE-SE PARA O CONTATO
 Três gavetas abrem em meu quarto, uma com uma câmera ocular, indestrutível ao vácuo, ao qual coloco como uma lente, uma pistola-baioneta e uma pequena cápsula, se tomá-la, explodo atomicamente.
 Tudo fica em silêncio, em tremendo silêncio, as máquinas entram em modo espião, as câmeras em modo noturno e todo o som da nave é ampliado em alto-falantes em meu quarto: não são passos, são barulhos de arrasto, então, a porta da nave externa abre-se, ouço grunhidos e, logo, vários arrastos entram...
 A porta abre-se para o salão central, firmo o passo... Ele treme, firmo de novo, ele treme e continuo pelo estreito corredor até o salão central.
 Eles demoram a vir, o arrasto continua por uns dez ou quinze minutos, não lembro de ter nenhuma ideia ou sensação de heroísmo naquela hora, estava com pistola no coldre e a lente coçava; a cabeça vazia, mas, na espinha um pavor, tudo parecia mais escuro e a porta do salão, maior, a disformidade do pânico.
 Abre-se a porta.
 Um gás invade a sala, fecho meu capacete oval, tudo fica amarelado e meus olhos turvam, grito para o computador iluminar, as projeções no ar começam a vermelhidar... Na porta vultos enormes aparecem e, de repente, um entra... Um lindíssima mulher de olhos gatunos, uma lince de cabelos castanhos...
 -Fale comigo - estremeço a voz
 -Gkltar glutar... - Grunhidos que não compreendo... Entretanto, ela mostra para que eu retire o capacete, não aceito, acenando com a cabeça, o que ela não entende, fazemos mímicas estranhas entre nós...
 Algo voa dos outros vultos, acerta minha cabeça, neste momento, os robôs diminutos e com suas rodinhas, saem das paredes e tiram suas facas, toda a nave é iluminada, de forma que os vultos se revelem e, talvez, fiquem cegos... Olho para a linda moça por uma última vez, até que meu capacete se quebre e o gás entre... Desmaio

 Ela me dá um beijo em um enorme deserto... É tudo muito amarelo e nada parece acontecer além dela me olhar com olhos castanhos-azuis... Ela seria uma mestiça? Um feito-em-laboratório? Não sei, não me importa...
 Me toma pela mão e me leva entre enormes construções estranhas, parecidas com árvores, sequoias de pontas coloridas, apenas vejo pessoas de branco nelas. Ao fundo, em montanhas vermelhas, pontas se acendem para o céu, como nossos foguetes na Velha Terra. Então, seguimos entre alguns arbustos dispostos em círculos e ela me mostra uma pequena lata avermelhada, eu a abro e o ar amarelo escapa dali...
 -É isto que me deixou assim?
 Ela apenas aponta para a lata, ninguém fala ali, o silêncio é tenente, mestre daquele sonho inteiro, apenas escuto minha respiração, apagando... Ora, acordando.
 Saco a minha pistola, ela me olha atentamente, sinto que os outros, todos vestidos de branco, também me observam atentamente... Sinto que posso ainda ter contato com alguma forma física de mim mesmo, então, coloco a pistola no coldre novamente e, pensando muito bem naqueles instantes, tiro de um pequeno bolso a pílula e coloco na boca... Ela age em cinco segundos, se meu coração parar, e isto é que ele não faz naquele momento
 Olho para os olhos dela, ela me fita profundamente, sinto que nós temos uma certa semelhança... Talvez o "tal espírito" que os filosofógrafos buscavam em tantas colônias e teorias... Não sei como comportar-me, nem ela...
 Então, tomo ela me meus braços e os outros movem-se para tirá-la de mim, sou mais rápido e beijo-a profundamente.

 Tudo clareia e estamos no salão, a fumaça se dissipa e há um enorme ser caído aos meus pés, é um enorme ser lesmiforme, com braços peludos e face de uma boca e dois olhos, acho que são olhos. Ele está de certa forma desmaiado... Os outros me olham, estão com carapaças negras de adornos amarelos... Eles retiram pontas que seguram com seus três braços peludos, os robôs se lançam enquanto gritam um avisto: "ARMA TÉRMICA REGISTRADA"
 Fecho os olhos e abaixo minha cabeça, eu fui um péssimo embaixador para a única raça inteligente encontrada por nós em cento e cinquenta anos... Então, quando olho para o ser caído aos meus pés, ele sorri pra mim e pressinto ser ela...
 Veja só, nunca me apaixonei na Velha Terra nem em Tritão, nem em Zéfiro, ou outra colônia... Estranho este mundo...
 A arma dispara e meu peito explode em faíscas vermelhas do meu sangue, os robôs trucidam os seres que grunhem algo... Enquanto eu estou caído, tendo voado pelo salão e batido na parede, olho para a cara do ser na minha frente, ferido, acho que vi um sorriso...
 O flash da cara da mulher da ilusão me vem, então, sinto um enorme fogo subindo e, bem, logo, tudo fica claro e eu sou o primeiro a encontrar o som no espaço.