sábado, 18 de fevereiro de 2012

Pois é bruxo #Agentes do Caos

 MUSIQUETA DA POSTAGEM 

 -Pois é, sou praticante do bruxismo a tempos...
 -Como assim, Nick?
 O gordo N. Charlie pega um cigarro, abre na lata de cerveja e começa a me contar suas baboseiras...
 -Então, eu não acredito no Estado porque sempre vi meus amigos mais legais, quando entraram pra droga da máquina pública, virarem uns belos de uns filhos-da-puta, eu vi isto, eu sei disto. Também não creio que não dá pra confiar muito nas mulheres porque, você sabe melhor do que eu... Elas pisam no teu coração com a porcaria dos saltos agulhas que compram pra impinar a bunda, quando não enchem o saco todo o tempo... Pra mim, quanto mais sacana, mais relacionamentos sérios você consegue ter, entende?
 -Sim, entendo, Nick. Mas, sobre o Amor...
 -Hey! Não venha com suas historinhas aqui, eu não estou falando nada de Amor, esta coisa fru-fru que ninguém sabe a cara e que todos falam que não é isto, não é aquilo... Amor você tem quando, depois de 50 anos casado, olha pro maracujá ao seu lado e, sei lá o por quê, ainda sente tesão... Bem, aí, o resto é Filosofia, e das piores, já que todo o filósofo é – por si só – um péssimo amante... Se bem que estou filosofando...
 -Sim, Nick, você está... Hahahaha –Gargalhei na frente dele, levemente, arrumei minha franja na janela de um carro, enquanto passávamos por uma praça destruída por um bombardeio... O gordo N. Charlie, pegou sua lata de cerveja, pôs de lado, pegando depois um pedaço de ferro retorcido, acho que era parte de alguma máquina de guerra, talvez um robô, não sei...
 -Sabe, eu também não acredito em deus, nem no Deus, nem em qualquer outro... – Apontou o pedaço de ferro em volta – Esta droga toda aqui, saca? Uma merda de guerra que estava destinada como uma prova de vida das pessoas? Ora, bolas, uma bela merda... O menino da lupa continua aí, cegando todo mundo, se é que o tal pirralho e a tal lupa existe... Podemos só ser bolhas, corpos com bolhas ao invés de cabeças, que quando morrem, esplodem e...
 Um arroto. Perdeu o assunto
 -Hein, - disse eu- o que é bruxismo? Tu falou isto e não explicou... –Pedi a lata de cerveja com um gesto, ele não me deu, o sacana sabia que eu era de menor, sei lá, minha cara ainda era muito “de mocinha”, bando de desgraçados... Enfim! Continuou o gordo:
 -Ah, isto? Bem, eu não acredito em nada que não possa um dia tocar entre minha mão esquerda e direita, como o seu amigo, ou sei lá o que... O esquilo... Como é o nome?
 -Panda, o nome dele é Panda
 -É, esta coisa aí... Putz, nunca entendi isto, devo estar muito chapado pra ver bichos conversando entre si, e ainda mais com um serzinho tão bizarro como tu... –Ele tocou na minha franja, segurei seu mão e torci, ele se soltou, rindo... Que bobo é este Nick, um belo bobo...
 -Okay, okay! Para, para porra!
 -Fala aí!
 -Okay... Ah, bruxismo, saca? É você não acreditar em nada além do que exista entre as suas mãos, pensando numa conexão quase, quase... Que mágica, sabe? – Ele não havia derrubado o cigarro em nenhum momento ainda, tragou-o muito devagar... Nós subíamos uma ladeira, soltar a fumaça o fez tossir, continuou:
 -Então, você chega num bar, olha pra menina que você quer e pensa: “Nossa, é hoje!”, daí você começa a refletir sobre sua vida e olha pro garçom, ele não te atende, você fica puto, mas, vai chegando perto dela, tem um vestido vermelho e cabelo Channel, pode ser até ruiva! Não na parte de cima, claro... Enfim, é a coisa de ficar fixado num ponto entre a seus braços e pegar aquilo, acreditando que apenas aquilo te salva... Sei lá... Do Amor, de deus, de um alienígena... Bah!
 Silêncio de alguns minutos, o caminho era ingrime, a rua era Das Araucárias, mas, nenhuma árvore havia ali, apenas alguns cortiços que sobraram do Bombardeio, pergunto quando já estávamos quase no fim da ladeira:
 -Ela ficou com você naquela noite?
 -...Não... Me deu um tapa na cara, nunca fui bom com mulheres...
 Lhe sorri, ele ficou meio encabulado.
 -Bem, é isto que se resume minha vida... Tentar ser um bruxo, um ser que entre seus braços tenta fazer o melhor possível, tentar realizar o que tem de fazer e... As vezes temos que continuar apenas vivendo... Como porcarias de amebas...
 -Hm... –Olhei ele nos olhos, o gordo estava suando, o cigarro, acabando, íamos chegando na parte mais alta da cidade... Paramos em frente a uma enorme cratera, gigantes e cheia de lixo; deveria ter quase uma semana, mas, os urubus ali já viviam...
 -...Sabe, o seu bruxismo é interessante.
 -É... Afinal, -ele suava- este céu está muito bonito, acho que isto é o mais próximo que conseguimos chegar do paraíso, aquele de livros religiosos como o Livro Vermelho, que os padres ficam nos enfiando pela guela...
 O céu era azul, tinha umas nuvens brancas embaixo, era o Pôr-do-Sol... Nick Charlie olha para minha cara
 -Seus olhos, sabe, são realmente lindos... –Não me tocou desta vez, apenas olhava, fixamente
 -Me dá? –Apontei para a coisa que estava na sua mão direita
 Ele deu o cigarro, eu traguei, sorri... Joguei o cigarro fora, estava na hora, aquele era o momento
 Nick Charlie foi agarrado, beijado, não mexeu muito, ficou até paralisado...
 -... –Eu lhe sorri, minha franja loira levantava com o vento.
 -Sabe, Olhos-de-Espelho, você teria sido uma bela Agente do Caos, ou sei lá... Uma merda destas... Foda-se, por que fez isto?
 -Ora, bruxo? Ao menos agora, você teve a chance de ter alguma coisa concreta e não ficar só esperando que algo dentro dos seus braços apareça... Deveria ter ficado mais calmo, “deveria ter amado, sofrido e procurado mais, pelas coisas pequenas”, como diz a música...
 -Sabe, eu sempre busquei... Este foi o problema... –N.Charlie quase me fez despender uma lágrima... Olhei-o fixamente, ele também, porém, não era tempo para mais um beijo...
 -... ... ...
 -Adeus, menina!
 -...Nick, - eu disse – pode ir, se quiser... Vai... Não posso fazer isto com um cara como você... Realmente, você é um bruxo, vai, antes que alguém mais puto do que eu apareça... Nunca mais pise nesta cidade, nunca mais, sei lá... Bombardeie...
 -Ora, vá se foder! –Riu o gordo, que saiu correndo em uma velocidade espantosa... Ele tinha gosto de cigarro, como alguns e algumas por aí...
 Estava há uns doze passos, sorria.
 Tirei minha Luger da jaqueta, mirei, estava fácil
 PÁ!
 ...
 Andando para aquele gordo de cabeça despedaçada... Caído de bruços, era o último deles... Com aquele jeito
 -É, Nick, você foi um bruxo... Consegui morrer com esperança, mesmo nunca tendo...
 Virei-me, segui pra baixo da ladeira, acho que ainda ouvi, no vento, um:
 -Foda-se!
 E o sol cobriu todos nós com a sua ida, tudo escurece.

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