domingo, 7 de outubro de 2012

Alquimata III


Alquimata III – Visita na Tabacaria
 Pegaram o metrô em direção ao Ponto Sudeste, no Sistema Radial de transporte de Campos Gerais, tudo saía da cidade ou entrava deste jeito. E lá iam o jovem Onório, sentado apenas olhando a espada ao qual ganhara, embainhada e acorrentada, Rita, que estava fumando em lugar proibido, e o Velho Dimas, lendo um livro de Nelson Rodrigues.
 -Velho...
 -Sim, Mestre Onório?
 -Mestre? – Perguntou Rita, assustada em sua cara.
-Sim, – respondeu o senhor quase careca e pequeno – agora ele é o Rei do Mundo dos Luparinos, e como nós o somos, devemos chamá-lo assim.
-Ah... Sim...
-Hey, Rita, cale a boca! –Gritou o jovem de mullets e camisa listrada verde – Os humanos estão conversando aqui, ok?
-Oras... Seu...
-Tome, Rita, leia um pouco... – E Dimas deu para Rita um livrinho, se bem lembro, Jerusalém Libertada, acho que uma ópera antiga – Vai saber muito mais lendo do que berrando.
 Ela obedeceu e o jovem continuou:
-Os Altos de laranja que estavam com a gente... Se eu sou o chefe, por que deixaram a gente depois de me anunciar?!
O Velho se aproximou de Escapuleri e disse, segurando seus ombros como que para um segredo:
-Nunca confie nos caras de laranja! É uma cor que dá azar...
-Como assim? Eu não sou O CHEFE?
-Não. Você é apenas o Portador da Espada de Salomão, esta, que você tem nas mãos... Cada um dos Três Clãs de alquimistas tem uma arma: a Espada dos Luparinos, a Javelin dos Be-Strokers e o Escudo dos Montemartinos. Estas armas são importantes, não os Portadores... Elas contém todo o segredo das principais magias e selos que cada um dos nossos povos possui, em quinhentos anos de guerra entre os Alquimistas, nunca perdemos esta arma porque sempre há alguém para protegê-la, se não forem os Altos Alquimistas, o próprio Portador deve ser de todo o modo proteger a arma!
-Ok... Os Três Clãs dependem disto? E nós nunca soubemos? – Onório olhou para Rita, ela nem estava ali para a conversa, apenas lia seu livrinho, devorando-o enquanto o mesmo dava vermes em seu cérebro de Djanho. –Enfim, e agora?! Eu não posso nem tirar esta espada da bainha! Como vou proteger alguma coisa?
-Bem, garoto, estamos indo pra um ponto da Metrópole visitar um velho amigo meu...Dono de Tabacaria.
-Por quê? Isto é hora de fumar um begue?
-Não, vamos lá porque ele é alguém que pode explicar sua situação para você.
 Desceram na Estação Central da Lapa, uma antiga cidade daqui. Tiveram ainda que tomar um ônibus para uma região perto do Aeroporto 125, deserto e degradado, um bairro surgia do mato verde que ainda se via ali. Em uma casa de dois andares e estilo polaco, com teto pra neve apesar de estarmos nos trópicos, lá estava escrito na plaquinha:
Tabacaria Xavier
Cinquenta anos servindo o melhor tabaco legal para sua família
 Entraram e já estava noite, foram recebidos por um velhinho mais velho que o Velho Dimas, só que mais alto, apesar de ser oriental, acho que japonês. Ele abraçou o companheiro idoso e logo todos foram tomar um pouco de chá, enquanto ele fumava um enorme cachimbo fedorento.
 Ao entrarem na Sala de Chá, dentro da loja, uma enorme biblioteca. Olhando para o chão, Onório disse para Rita:
-Tome cuidado, este velho é esperto...
-Sim, entendi! –Disse ela fingindo agora ler seu livro e com uma faca próxima da mão, mas por baixo do casaco.
 -Não precisam se preocupar, ele é confiável, meus jovens. –Disse Dimas – Xavier não possui nenhum vínculo, ele é um Sem-Clã.
 Diante da cara de espanto dos dois, o japonês completou:
-Exatamente, sir! Francisco Xavier de Oliveira, um orgulhoso velho Sem-Clã! E não se preocupem – Apontou para chão – este Selo de Estrela de Cinco Pontas aqui é contra todo o tipo de magia, mas, não é para vocês serem atacados ou algo assim... Se tentasse atacar alguém que é amigo do Dimas, com certeza estaria morto hahahahahahaha e olha que sei disto, ele já foi meu amigo! Hahahahahahaah
 Os dois gargalharam por alguns minutos. Depois disto, sentaram em um sofá velho e Dimas contou a situação que aconteceu naquela manhã, ao qual o japonês perguntou para Onório:
-Oras, então, você é o Chefe dos Luparinos agora! Que grande honra! Eu vi tipos como você apenas me perseguindo ou ceifando cabeças alheias hehehe e já faz uns cem anos?!
-Não vale nada, na real, este título aí... De que vale ser o “Chefe dos Luparinos” se nem posso ser protegido ou algo assim?!
-... Hm... –E assoprou o velho Xavier  seu pito – Acho que Dimas veio aqui porque tenho algo bem didático para explicar esta situação, ainda mais para jovens como vocês, que não gostam de ouvir como eu ouvia de meu pai, lá na Terra do Sol Nascente...
 Ele levantou-se e tirou os panos de um velho maquinário no meio da biblioteca:
 -Isto é uma Maquiladora de Metempsicose, algo velho e antigo... Funciona como um mostrador de slides de hoje em dia, mas, é melhor...
-Hm... Por que melhor, velho china? – Pergunta a curiosa engenheira Rita.
-Ele é baseado na Metempsicose, o transporte do que nós chamamos de aura para outros corpos... Ela faz isto e, assim, pode-se passar um tipo de “filme” com as antigas histórias do passado, reproduzindo tudo o que viveram aquelas pessoas e...
-Oras, por favor, comece logo, Xavier! –Fala Dimas – Mostre ao rapaz de uma vez!
-Ok, sir!... Continua um chato – resmungou o velho japonês, que pegou alguns ossos e jogou numa rede de tubos que havia para um enorme triângulo branco. Logo, tudo começou a se encher de fumaça e o velho pitou seu cachimbo e assoprou, misturando as duas névoas...
-Mas, o que...
-hehehee isto é para o show! –Sorriu o oriental e deixou seu cachimbo em uma mesa. – Agora, se me permitem, vou ao banheiro que o chá desceu na bexiga!
 Então, apertou o velho um botão e uma luz encheu a sala...
Começa a narração de uma voz pra dormir, só que como se fosse a sua voz que falasse para você mesmo. Uma sensação estranha de perder o controle de si mesmo, ao qual começou dizendo, enquanto cada imagem que ela ia comentando se mostrava em sensações para nossos sentidos:
Então, no alto da Guerra entre os Alquimistas, Três Clãs vieram à tona como a espuma da água do mar que invade a terra, vem e lhe rouba a areia, para os Castelos Submarinos.
No século XV, nos restos da Cidade Romana do Ocidente, se ergue os Luparinos, poderosos da Pele Vermelha. No sultanato púrpura, amarelo e vermelho de Solimão, que com seu Sabre baniu todo o Mal sobre seu Clã e numa floresta, encontrou o Lobo, símbolo de toda a Criação Luparina...
Nos anos de 1000 até 1790, uma enorme batalha se findou, e dela, surgiram os Cores Azuis, Cinzas e Castanhos, entre dois clãs inimigos surgiu um vitorioso apenas: os Montemartes. Dotados da defesa de todo o saber e mesmo sendo de Sicília, seu reino se deu nas florestas insólitas e negras da América Espanhola, sobre o Signo de Aldovaz, o Andarilho...
E na Era do Vapor, dentro de um povo sueco com fome e sede, todos os que se dão nome de Clãs do Norte Austral se unem, sobre um signo Bispal e de cores Celeste, Branca e Rósea, sobre uma única Justa e para uma única Guilda, dão-se o nome de Be-Stroker, os “Para Limpeza”. E em todo o navio vitoriano se vão, conquistando e colonizando, sobre a efígie da Santa Javelin usada pelo descendente do Santo Aurélio, Romano devotado ao único senhor dos Be-Stroker...
Com os três nomes dos Grandes Clãs do Ocidente o mundo se assombra, tamanha é a força e expansão de suas pronúncias e força... Porém, anos negro se vêem
Se vão... E chegam.
A Guerra contra os Inimigos de Todos os Bruxos se dá, e todos se unem!
Porém, a Vitória parece não vir sem o Ego, ao qual consumiu todos os Líderes dos Três Clãs... Na Batalha Quase perdida, apenas os Antigos poderiam ajudar
E das tumbas eles se erguem, Vencendo, todos e tudo!
Selam as armas para que apenas aqueles dignos pudessem usar... Dignidade conseguida apenas no brilho prateado da guerra contra coisas bestiais, como os terríveis...
 ...PLAFT!
 Neste momento, o Velho Dimas sai de sua cadeira e corre em direção ao banheiro, sacando sua pistola. Levanto-me e ainda com bolinhas brilhantes, faço o mesmo, enquanto seguimos pelo corredor, pergunto:
-O que há Dimas?
-Você não ouviu? É barulho de passos!
Ele abre a porta, nisto, Rita já está atrás de mim, portando sua faca. Todos nós paramos, sem nos mexermos... A cena é bizarra: o velho Xavier está com a cabeça decepada, com o corpo ajoelhado em frente ao vaso sanitário. Olho o espelho e há inscrições, na boca da patente, o mesmo.
-Velho, isto é uma Maria Sangrenta?
-Sim, é sim garoto... Mas, parece que ela já terminou, era apenas para o velho Xavier... Se você olhar o espelho, já está queimado e a água da patente, limpa... O feitiço terminou...
 Me aproximei devagar e tirei o corpo decapitado  parecia que o japonês tinha sido acertado no peito e jogado na patente, aonde a Maria Sangrenta foi escrita. Um dos feitiços mais macabros, faz com que toda a massa de água tornar-se uma Devoradora de Membros (em geral, apenas um), - no caso, se escolhem privadas por serem as mais fáceis de se encontrar... O que deu a superstição humana de um “fantasma”.
-Estranho, -diz Rita- teríamos percebido algo como uma Maria Sangrenta... Não ouvi nada!
-Mesmo um ouvido de Djanho, Rita, está prejudicado pelo Selo de Estrela 5 Pontas da biblioteca... Não daria pra ouvir... Na verdade, nenhum humano poderia sequer fazer uma magia com aquilo escrito no chão, usando ferro fundido...
-Mas, velho... Como você? ...
-Espera! –Grita Dimas, ao qual corremos de volta para a sala.
-O cachimbo do Xavier! – Diz o velho. – Sumiu!
-O que tem aquele pito fedorento? Nem se pode fumar mais em local público! – Diz Rita.
-Aquilo era uma arma mágica, Rita –Digo eu para ela. Olho em volta e vejo que os desenhos no chão derreteram, algo poderoso havia passado por ali.
 De repente, sirenes tocam. Dimas grita para tentarmos achar uma saída, mas, a biblioteca não possui nenhuma.
 Então, entram Policiais Militares com metralhadoras Tommy Gun e na frente deles um gordinho que diz:
 -Capitão Torquemada! Vocês estão todos presos pela Polícia do Estado Paranaense!

MUSIQUETA




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