quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

Peregrino

Não, não havia mais sentido entre nossos olhares
Nada ali havia, mais que simples poeira, memórias
Pois, é de pó que somos feitos, nisto estão nossos reflexos
Perdidos no tempo, em algum tempo
Isto, uma pequena vela trêmula, a vida.
A vela se apaga, fica um cheio de pavio queimado no ar, por poucos minutos
Não mais, não menos
Porém, o ar permanecerá, o fogo iluminou a sombra
O ato perpetuará pra eternidade
A vela se apagará
A luz iluminará em outras sombras
Em outros quartos escuros
Entre outros olhares


Nós, minha querida, aqui estamos
Como velas no amanhecer sendo apagadas
Para que com o grande sol, sejamos todos iluminados.
E, mais além, para que uma luz muito maior nos transpasse o peito
Corte a sombra interior que é condição humana
Sombra ignorada pelos fracos, festejada pelos demoníacos, temida, pelos sinceros.
A vela se apaga, meu amor, como em nossos anos que passaram
Como todos os problemas enfrentados, filhos criados, casa ajeitada
Bens materiais, envelhecidos ou envernizados, também o são nossos ossos e músculos
Mas, a música permanece
O cheiro do pavio apagado
A manhã chega
O ato perpetuará em insondáveis caminhos
De mistérios sutis, ouvidos por quem possa
Abrir o coração
Ser mais que aquela vela
Apagada
Apagar-se
Peregrino no deserto, escuro e solitário
Vendo apenas outras velas
Pequeninas estrelas
Iluminar o caminho
Com o cheio da parafina
E as estrelas distantes

A vela se apagará
A luz, permanecerá.


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