terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Olá amigo

"Mas, o que aconteceu com você? Que a todos dizia o que fazer e quando dizer
Mas, o que houve contigo, que, na semana passada, obrigou a pular dum prédio um amigo
Porém, vivo está, chorando ficou, quando de um olhar mais severo deu a ele
Mas, o que aconteceu com você? Que possuía uma coroa de ouro feita pelos gnomos do Passeio Público
Dado pela beleza das suas ordens
Bem, talvez, o que aconteceu com você é que decidiu fazer outra coisa
Decidiu que estava sem sentido e decidiu escrever um novo trilho
No papel branco da folha
E, mais uma vez, pensou ter ordem ao caos
E a todos ordenar
Mas, o que aconteceu com você?
Que pensou que podia voar
E pulou da Ponte do Capanema. Caiu na real?"

(Lucrător Prosper, "Cadeia do Ipê Roxo", Curitiba, 2017)

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Espaço mudo

 Faz tempo que não recebo nada além de uma pequena luz pálida azul que corta minha tela esférica de minha nave. Olhando para o escuro eterno, minha tela projetada na janela coloca pontos e diversos elementos, talvez não tanto para a navegação, mas, para que eu não me mate de tédio.
 Tédio, a grande palavra da exploração de todos os tempos de nossa raça.
 Não há muito o que fazer além de anotar algumas ideias numa tela, tudo é quase que automático e alguns robôs vem e vão, com sua pequenês servil, levando para lá e para cá, arrumando alguns pinos e pontos-fundidos. Dei nome a cada um deles, os dezessete, que, solenemente, não me respondem, sabe, coisa de segurança: colocar voz em uma máquina sem sentimentos é perigoso pra cabeça...
 Então, em uma sinfonia insone, enquanto eu dormia com meu tapa-olhos, começa um tremendo barulho de luzes vermelhas piscantes e amarelas, a cor do perigo. Depois de cinco anos, algo acontece: as máquinas, enlouquecidas, correm de um lado para o outro, sacando facas elétricas de seus gabinetes que eu nem sabia que existiam, a máquina em forma de H põe-se a mexer-se, começa a sequência de ativação dos canhões de plutônio irradiado e dos círculos benzidos de energia eletromagnética, armas mortais. Uma única ordem aparece em toda a tela projetada pela nave, tomada agora de uma escuridão tenebrosa:
-SOREN, SOREN IAMATO, PREPARE-SE PARA O CONTATO
 Três gavetas abrem em meu quarto, uma com uma câmera ocular, indestrutível ao vácuo, ao qual coloco como uma lente, uma pistola-baioneta e uma pequena cápsula, se tomá-la, explodo atomicamente.
 Tudo fica em silêncio, em tremendo silêncio, as máquinas entram em modo espião, as câmeras em modo noturno e todo o som da nave é ampliado em alto-falantes em meu quarto: não são passos, são barulhos de arrasto, então, a porta da nave externa abre-se, ouço grunhidos e, logo, vários arrastos entram...
 A porta abre-se para o salão central, firmo o passo... Ele treme, firmo de novo, ele treme e continuo pelo estreito corredor até o salão central.
 Eles demoram a vir, o arrasto continua por uns dez ou quinze minutos, não lembro de ter nenhuma ideia ou sensação de heroísmo naquela hora, estava com pistola no coldre e a lente coçava; a cabeça vazia, mas, na espinha um pavor, tudo parecia mais escuro e a porta do salão, maior, a disformidade do pânico.
 Abre-se a porta.
 Um gás invade a sala, fecho meu capacete oval, tudo fica amarelado e meus olhos turvam, grito para o computador iluminar, as projeções no ar começam a vermelhidar... Na porta vultos enormes aparecem e, de repente, um entra... Um lindíssima mulher de olhos gatunos, uma lince de cabelos castanhos...
 -Fale comigo - estremeço a voz
 -Gkltar glutar... - Grunhidos que não compreendo... Entretanto, ela mostra para que eu retire o capacete, não aceito, acenando com a cabeça, o que ela não entende, fazemos mímicas estranhas entre nós...
 Algo voa dos outros vultos, acerta minha cabeça, neste momento, os robôs diminutos e com suas rodinhas, saem das paredes e tiram suas facas, toda a nave é iluminada, de forma que os vultos se revelem e, talvez, fiquem cegos... Olho para a linda moça por uma última vez, até que meu capacete se quebre e o gás entre... Desmaio

 Ela me dá um beijo em um enorme deserto... É tudo muito amarelo e nada parece acontecer além dela me olhar com olhos castanhos-azuis... Ela seria uma mestiça? Um feito-em-laboratório? Não sei, não me importa...
 Me toma pela mão e me leva entre enormes construções estranhas, parecidas com árvores, sequoias de pontas coloridas, apenas vejo pessoas de branco nelas. Ao fundo, em montanhas vermelhas, pontas se acendem para o céu, como nossos foguetes na Velha Terra. Então, seguimos entre alguns arbustos dispostos em círculos e ela me mostra uma pequena lata avermelhada, eu a abro e o ar amarelo escapa dali...
 -É isto que me deixou assim?
 Ela apenas aponta para a lata, ninguém fala ali, o silêncio é tenente, mestre daquele sonho inteiro, apenas escuto minha respiração, apagando... Ora, acordando.
 Saco a minha pistola, ela me olha atentamente, sinto que os outros, todos vestidos de branco, também me observam atentamente... Sinto que posso ainda ter contato com alguma forma física de mim mesmo, então, coloco a pistola no coldre novamente e, pensando muito bem naqueles instantes, tiro de um pequeno bolso a pílula e coloco na boca... Ela age em cinco segundos, se meu coração parar, e isto é que ele não faz naquele momento
 Olho para os olhos dela, ela me fita profundamente, sinto que nós temos uma certa semelhança... Talvez o "tal espírito" que os filosofógrafos buscavam em tantas colônias e teorias... Não sei como comportar-me, nem ela...
 Então, tomo ela me meus braços e os outros movem-se para tirá-la de mim, sou mais rápido e beijo-a profundamente.

 Tudo clareia e estamos no salão, a fumaça se dissipa e há um enorme ser caído aos meus pés, é um enorme ser lesmiforme, com braços peludos e face de uma boca e dois olhos, acho que são olhos. Ele está de certa forma desmaiado... Os outros me olham, estão com carapaças negras de adornos amarelos... Eles retiram pontas que seguram com seus três braços peludos, os robôs se lançam enquanto gritam um avisto: "ARMA TÉRMICA REGISTRADA"
 Fecho os olhos e abaixo minha cabeça, eu fui um péssimo embaixador para a única raça inteligente encontrada por nós em cento e cinquenta anos... Então, quando olho para o ser caído aos meus pés, ele sorri pra mim e pressinto ser ela...
 Veja só, nunca me apaixonei na Velha Terra nem em Tritão, nem em Zéfiro, ou outra colônia... Estranho este mundo...
 A arma dispara e meu peito explode em faíscas vermelhas do meu sangue, os robôs trucidam os seres que grunhem algo... Enquanto eu estou caído, tendo voado pelo salão e batido na parede, olho para a cara do ser na minha frente, ferido, acho que vi um sorriso...
 O flash da cara da mulher da ilusão me vem, então, sinto um enorme fogo subindo e, bem, logo, tudo fica claro e eu sou o primeiro a encontrar o som no espaço.


domingo, 26 de janeiro de 2014

Soco

 Retirou levemente as bandagens que cobriam suas mãos feridas, enquanto via os seus colegas, mortos em sua frente, abraçados com suas baionetas cravadas nos enormes robôs de brilho pálido e amarelado do Imperador.
as forças rebeldes estavam liquidadas e aquela moça, que lutava boxe e fora famosa um dia, não mais dizia nenhuma palavra, passava levemente a mão no cabelo rosa que crescia de novo... Não havia muita coisa além de olhar levemente para a poça que a chuva fazia, olhar sua cara careca.
 -Sou uma estranha aqui... - Disse, para os mortos, levantou-se e arrastou enormes luvas com caveiras desenhadas.
 -Se não temos nada pelo que lutar, talvez não seja preciso mais viver. - Falou para o abismo que aparecia na sua frente, era uma vala aberta por um bombardeio de Bomba Nadsat que transformou o céu em um grande espaço laranja, como o macacão dela, Varia Mari
Lá embaixo, alguns caídos pelo ataque posterior, e posterior, e posterior, não sei mais. Apenas vi que Varia andava em círculos, pensando qual seria o melhor momento para pular, quando, de repente, veio uma memória e a li:
 Espelho de cristal dado por seu namorado que era um gato refletia seu sorriso cômico cheio de dentes, pegava grandes luvas com caveiras desenhadas e colocava, firmemente sobre as mãos, aquela arma para seu Coliseu seguia com intensidade batia, lá estava ele, Rudolfo Pentaleão, o último campeão de boxe do Império...
 Um, dois, três assaltos e não havia mais Pentaleão, apenas seus dentes no chão deste fluxo de consciência que a memória final de Varia...
 Um belo cinto de alumínio e aclamação, correu para o quartinho aonde trocavam de roupa e a tirou, lá estava seu namorado, taciturno e olhando-a com olhos de sereia, olhando como se quisesse algo mais dela. E ela tirou a roupa e o beijou. O sol da manhã seguinte entrando pela claraboia foi o que os acordou, ela estava preguiçosa, mas, em pelo levantou enquanto ele segurava sua mão, sem soltar:
 -Esta guerra... Está chegando em nós, não? - Disse, soltando a mão dele e penteando os cabelos
 -Sim, está... Mas, nós venceremos ela antes... - Respondeu o namorado, pondo sua máscara de felino, que era moda naquela época daquele povo.
 -Somos vinte contra cem, o que podemos fazer?
 -Ter motivos para lutar, oras...
 - E qual é o seu?
 -Depor o Imperador...
 Ela permaneceu em silêncio, pôs um colete azul, bufou cansada por estar cedo e ter compromissos logo. Não disse adeus direito para ele, tomou café verde e beijou levemente a mão dele.
 Foi o dia do Grande Ataque, aonde as forças do Império arrasaram com Bombas Nadsat a capital dos rebeldes. Varia pegou um trem algumas horas antes, para promover sua vitória, aquele que ela não deu adeus direito, não.
...
 Olhou firmemente para os corpos lá embaixo, estavam cinzas ora laranjas.
 Deixou o corpo cair
 Todo o peso de tudo que tinha parecia enorme.



 Abracei-a com meu enorme braço, continua bela quando assustada, esta Varia. Com seu grito, revelei quem eu era dizendo algumas palavras:
 -Olá, Varia! Como está a minha campeã?
 A surpresa dela ao ver que eu, Rudolfo Pentaleão estava vivo fora enorme.
 Passado o susto, voltamos a andar, não havia muita coisa em pé, mas, achamos uma venda aonde deram água e suquinho para a moça. Seguimos pela cidade até encontrarmos uma patrulha de homens com cara de máquina, eles falavam com sotaque da Capital do Império e olhou Varia de perto...
 Passamos por eles, Varia estava exausta, queria descansar... Começou a clarear uma luz solar branca, que cortava as faces, ordenaram para que nós fossemos de volta para nossas casas, entramos em qualquer uma ainda em pé
 -Sabe... - disse-me ao achar uma cadeira - queria meu cabelo de volta, mas, com as bombas não dá... Passei um bom tempo da Guerra olhando-me em espelhos depois que perdi os cabelos, é fútil, não?
 -Por quê? Eu era barbudo e cabeludo e agora sou um ovo avermelhado... - Rimos, mas, não muito
 -Porque era por isto que lutava... Não era por alguém... Pensei nisto hoje, antes de... Bem, de você aparecer...
 -Mas, qual o problema de lutar pelo seu cabelo?
 -Mas... Quando minha terra natal explodiu... Bem... O que eu amava morreu em mim para virar isto: cerrou os punhos e me mostrou
 -Eu sempre li em livros e diziam pra nós na escola que, bem, deveríamos ter coisas grandes e honrosas para nos preocuparem... Depois de um tempo... Não sei... Não sei se isto realmente é real e de verdade
 -Então, se não lutarmos por grandes coisas, lutar pelo que?
 Olhei para o chão, era cinza como tudo, mas, ainda tinha manchas de laranja.
 -Pelo que lutou pela primeira vez? - perguntei
 Vi um fluxo vindo e entrei nele, lendo-o:
 Estava jovem a dona Varia Mari quando seu pai, numa cama, olhava-a a dizia, vestido de uma máscara de urso:
 -Filha, teu irmão é doente, tua mãe morta, o que fará para sustentar suas pernas?
 -Não sei, pai - Chorava, parou e falou: - Você me ensinou a lutar!
 Como se já soubesse a resposta, falou:
 -Olhe minha face
 Ela tirou sua máscara e viu a cara desfigurada do pai
 -Isto é pelo Boxe que lutei minha vida inteira, ele pôs comida para vocês por muito tempo e agora me matou...
 -Eu sei...
 -E quando meu pai morreu, do mesmo jeito que eu, também era assim...
 -Mas, o que vou fazer mais do que lutar?
 -... - o pai ficou em silêncio, apenas apontou para uma caixa enorme aonde as luvas que eram mais gigantes para ela naquela época estavam num baú no pé da cama
 Começou assim, de liga em liga, até o pai morrer por seus ferimentos, nunca mais disse uma palavra.
...
 No fim das contas, entendi, quando olhava para o corpo curvado de Varia naquela cadeira, a luz do branca do nosso sol cai-a-lhe nos olhos, acordou, me olhou e fixou enquanto eu dizia:
 -Esta na hora de irmos, Varia... Esta na hora de morrer
 Ela tocou na barriga e lá havia sangue, laranja, ainda brotando. A dor voltou e ela cuspiu em cima de mim...
 -Você me lembra ele... Pantaleão...
 -...
 -Nunca pude dar um adeus direito pra ele... Quando, a cidade explodiu e... E...
 -... Eu sei.
 E minha mão tornou-se cara crapulosa e curva, arranhava a parede, fendia pouco a pouco ela e tomava a sua energia, sentia que deixava ela mais e mais cansada... Estava tocando sua face, cortando a sua vida, quando ouvi ela dizer:
 -Lutei por você, lutei pelo meu pai... Lutei por rebeldes, lutei mesmo contra robôs... E...
 Minhas caras tornavam-la mais e mais pálida, o sopro ia vindo e eu começava a me sentir enlouquecido com aquele tom de rosa e laranja, aquela pequena era ótima... Senti quando ela me tocou na face, olhei-a nos olhos, os meus vermelhos e os dela verdinhos
 Disse qualquer coisa, ouvi apenas, em meu inebriante ato:
 -... mim
 Cai para trás a seguir, o soco foi tão forte, que eu não enxergava nada, ela corria pela porta iluminada, eu tentei me levantar, mas, cai novamente, estava morrendo... Com um soco estava morrendo...
 Minhas garras apontavam para a porta, quando vi o corpo de Varia iluminado pela luz, vi então ela como quando ganhou do seu amor Pantaleão o campeonato, vi ela rosa, laranja e dando porrada...
 Cuspi laranja, entrei em coma e morri, não sei se por sorte ou esperança







sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Terno Marrom Escorrido

Naquele momento em que você está totalmente sem ideias, e copia e cola o mesmo que escreveu para outra pessoa para aquela aquém você não sabe muito o que dizer de diferente, sabe? Aquele momento?
Assim disse o escritor com seu terno marrom do alto da sua torre com seu dirigível amarrado... Ele queria ter ficado mais tempo com sua Princesa de Cabelo Vermelho e Amarelado, mas, não deu, não, não deu.
Algo mais forte veio antes, algo terrivelmente periclitante: cheia de palavras difíceis e hifens malditas, corria o corredor da noite, um enorme buldogue de bochechas velhas para ele, segurando uma lanterna com seu ternim verdim ele bate na porta do cortiço:
-Ela chegou mestre, ela chegou!
-Veio em tempo, ainda, caro servo, veio em tempo!
Foi lá os dois na motoneta nas vielas tortuosas daquela cidade portuária que já não me lembro mais o nome de Waum, foram os dois teimando o som estridente até uma enorme construção, um daqueles, arranha-céus de ponta redonda que tanto amam por aí.
Ele desceu, tirou a colheira do cão e disse: - Agora estás livre!
E subiu as escadas, enquanto o liberto bebia já na rua, feliz, simples assim.
Subiu as escadas principais e adentrou salão rosa, já cheio de curiosos de caras pintadas pálidas.
De lá, virou a esquerda na esquina e entrou no elevador, que era como um tubo de vácuo, espelhado e transparente, falou para o ascensorista (palavra que nem sei como acertei aqui no teclado):
-Por favor, o 22!
-Mas, senhor, está fechado! Para "aquela"...
-Eu sei, mas, para mim não está!
E o senhor pardo o respeitou, mesmo ele sendo um cara de pé-rapado.
Tocou a sineta e foi até lá.
Chegando no andar, o homem de terno marrom disse ao outro: - Vende tua pistola? Sei que vocês todos andam armados, afinal, com as aranhas que temos nesta cidade, poderia-se abrir um rodízio de churrasco!
Meio deprê o homem lhe deu, por 20 mangos da inflacionada moeda, o jovem-jovem foi indo pelos andares platinados, até que as estátuas branquelas de dois seguranças o pararam:
-Quem vem lá?
-Quem és tu?
-Eu? Não viu minha arma? Sou segurança como você!
-Ah, é?
-É!
-Mostra então o nosso aperto de mão secreto!
O homem foi lá e beijou a face do gigante gorila branco, ao outro, uma narigada no rosto que fugia:
-Estão desarmados!
Os dois viram, sentindo nos sobretudos, que não mais estavam, ficaram de boa, e o rapaz voltou a correr.
Ele sentiu que logo tudo estava acabado
E correu, correu até o quarto 22 no andar 22
Com tiro na porta, vários seguranças se ouviam na escada.
Estava um homem de cauda de pavão maquiando uma jovem platinada alva. Ele disse:
-Vai mexer com um Mago, meu jovem?
-Não, mas, o senhor vai encarrar um chumbo grosso?
-Nesta situação, até que não!
Então, o outro saiu correndo e ela lhe virou a cadeira: estava enluarado o dia e os passos da segurança já aumentavam o raiar
Ela disse; então, você conseguiu? É um dos poucos em rebeldia...
-Sim, sou um dos poucos mesmo... E consegui...
Então, ele encontrou a sua alva, a sua Ideia.
Beijou-a, e escreveu esta história.


Você e Tu e Eu

Meio solitário aqui, mesmo você dormindo
Aqui ao lado
É estranho não ter palavras para falar, sobre aquilo que existe
Entre eu e você
Este pulso magnético que me prende e puxa
A ti, é estranho
Meio solitário estar, mesmo que tão perto, mesmo que na distância de menos de
Cinco metros
Algo, é algo no olhar
é, creio ser, algo assim, mesmo aqui, da cadeira aonde escrevo
com este giz no chão não sinto muito, não sinto muito você mais
creio que é só momento, talvez eu já esteja indo até aí, quando
terminar de escrever isto
talvez seja, não é, só algo passageiro?
Viajar é preciso, sair de si também, talvez seja isto que me deixa
Você tão longe de mim?
Tenho de fazer aquelas meditações, aprender a viajar de mim
Ou, a questão é entrar bem pra dentro, pra dentro dos meus próprios olhos virá-los
Pra dentro da caçola
E lá ver, veja só
Ver que, bem, não é mais estranho estar me sentindo tão só, estando tão perto
Porque tu já está aqui, por dentro de mim
Minha caminha é assim. Você-tu-eu.

domingo, 13 de outubro de 2013

Os múltiplos dragões Zarr

Então, o grande Sábio Diezarr uniu todo um grupo de cinquenta tons de dracônicos negros, e todos os Zarr se viram em enorme paz interior. Seus corpos, naquele momento, eram mais curtos e possuíam apenas quatro pernas, mediam apenas cinco braças (mais ou menos 5 m) e suas pelagens estavam escuras, devido ao grande tempo em que o chão ficou em permafrost, um gigantesco mundo gelado na superfície que fez com que os seres Zarr aprendessem a Arte de Minoritar.

Como dizia o próprio Diezarr: minoretar é esquecer-se de si como algo importante e focar-se nas grandes entidades que existem dentro de si, deixando que seus pés movam-se em nado para cima e carreguem os ares para trás de si... O resultado disto é o minoreta, o voo pelo inflamento de nossos ossos e bolsas internas, nós, com isto, nos tornamos os Senhores do Celeste, com isto, atingimos às alturas.

Após os duzentos anos de Era Mundial Glacial, os Zarr começaram a desenvolver enormes canhões que usavam a energia dos grandes vulcões cinzentos para causar um Aquecimento Global. Os vapores iam subindo e revelando os velhos continentes, nesta era, foi fundada pelo Senado das Tribos uma enorme base, feita com cinco grandes canhões como base, Minorito – a “estrela em cima das nuvens”.
Neste período, tomaram contato com Niniel, um Serafim que conduzia um grande cruzador interdimensões, um Nyxk. Com ele, o povo Zarr tomou conhecimento do Mundo Exterior ao seu e começou a desejar a sua total compreensão... Porém, algo grave aconteceu... Com seus enormes canhões de degelo, os Zarr tiravam o calor interior do planeta Zarr e lançavam-o sobre a superfície, como enormes jatos energéticos. Até aí estaria tudo bem, entretanto, o planeta Zarr era na verdade uma enorme entidade viva, aonde uma enorme parte de seu continente era na verdade uma estrutura bacteriana, o Mumio.
Niniel sabia disto e deixou tudo acontecer, pois, quando o Mumio acordou, arrebentou toda a enorme civilização Zarr, matando milhões, inclusive os líderes globais. O Serafim roxo iluminava-se com o saber de tudo aquilo, porém, foi descoberto que ele e seus apaixonados, outros Zarr, haviam deixado tudo aquilo acontecer...
Com ele estava a Serafim Oganiel, que tomou parte em providenciar peças Nyxk para construir as primeiras Naves daquele povo, chamadas de Arcas. Entretanto, Niniel se achava no direito de impedir isto e matou Oganiel, fulminando a primeira nave de fuga com seu cruzador.
Neste período, havia um geógrafo chamado Boarazarr, ele era o principal representante de uma Escola de Pensamento, o da Honra Guerreira, que dizia que apenas o ensino e paz do minoritar não era o bastante, apenas considerando que em nós existe um eterno conflito e que pelo acaso devemos viver, não apenas na busca do equilíbrio, é que este grupo formou cerca de um continente inteiro de outras cidades Zarr. A conta fora de duzentos mil Zarr que impuseram um regime ao qual Boarazarr implementou: a Cura pela Conservação da Espécie Zarr.
Amplificando seus canhões ao máximo, os Zarr atraíram Niniel e suas tropas para Minorito com a promessa de submissão da Escola de Boazarr pela rendição do próprio. O serafim roxo desceu do espaço para a enorme cidadela dourada e, enquanto tomava as honras, viu que as naves dos Zarr partiam das outras cidades, ao qual ele respondeu para que destruíssem a todas o seu Cruzador Galático.
Entretanto, da terra saíram as enormes garras e tentáculos disformes de Mumio, que chegara na massa crítica...
A própria Minorito, começou a ser devastada, os quadrúpedes Zarr morriam, e o desesperado Niniel vira que não podia lutar com tal entidade... Neste momento, a própria cidade de Minorito ascendeu, atingindo o espaço, atingindo... O Cruzador de Niniel!
Disparando seus enormes feixes de laser vermelho, a nave matou o próprio Niniel, porém, a proximidade da bactéria Mumio fez com que seus enormes tentáculos atingissem a estabilidade da nave...
Enquanto isto, Boarazarr nas poucas naves que saíam da atmosfera, ligou o último presente da Serafim Oganiel, Globos de Viagem Interdimensional (GVI, ou Gevi) que, mesmo instáveis, puderam lançar as naves no hiperespaço velozmente, escapando do que acontecia na atmosfera do planeta.
Então, o Cruzador Nyxk caiu sobre o enorme Mumio, que, já exausto de tudo aquilo, apenas emitiu um ruído na língua dos Zarr que captaram em suas naves (ou pensaram ter ouvido) algo como: - Chega! (Afuunziur!)
E enterrou-se no interior do planeta, causando um cataclisma de fogo azulado, explodindo, Zarr.

MUSIQUETA - Eyes Wide Open – Gotye 




Os dracônicos Zarr e suas Torres de Guerra

Viajaram assim por um século e meio, Boarazarr ficou preso por genocídio até a sua morte; apenas dois milhões se salvaram, dos duzentos que haviam antes. Porém, o Governo da Nave manteve a Filosofia da Honra pela Espécie e puderam sobreviver, modificando seus corpos e treinando em primazia o minoretar.
Agora, consistiam os Zarr em gigantescos dragões-serpentes com pelos e face lupina ou canídea (pela tradução dos Crisociom, repito, NT) e toda a arquitetura se converteu em formas geométricas notórias. Neste período, eles foram abordados por diversas naves Nyxk, buscando algumas justiça, outras, amizade. Os Zarr, então, transformaram-se em Piratas Espaciais e viajavam de asteróide em asteróide, de lua em lua, até encontrarem um Novo Mundo.
Muitos morreram de fome e pelas instabilidades do Gevi (os Globos de Viagem Interdimensional), pois eram muito instavéis as viagens e podiam durar vários anos, sem uma única fonte de proteína ou fibras, alimento, sequer.
Porém, no novo país, institui-se plenamente a Honra da Espécie, e pelas mãos de um Novo Senado de Tribos, os Zarr decidiram por uma Guerra contra os Serafins, que passaram a ser inimigos dos Zarr.
Sua geométrica tecnologia e seus corpos dracônicos foram úteis na construação de enormes Torres de Guerra, retangulares e retirando a energia de sistemas atômicos semelhantes aos velhos canhões de descongelamento do planeta original, um único indiovíduo controlava mais de vinte alavancas simultaneamente. Cada par de alavancas dava para um andar d’onde saíam quatro canhões com capacidade atômicas. Entretanto, esta unidade de combate era apenas para as batalhas dentro de planetas, não sendo boa para a viagem extraterrestre... Mesmo assim, com esta tecnologia, os Zarr dominaram o Novo Mundo.
Novo Mundo que era meu, dos pequeninos seres Crisociom, acho que éramos agrícolas naquela época... Os Zarr transformaram a atmosfera em um enorme massa de nuvens, a terra tornou-se úmida pelas enormes chuvas, oceanos aumentaram, nós não podíamos comer mais. Com as Torres de Guerra e nossos vulcões dominados pelos Zarr, eles nos conduziram para o grande extermínio... Nós nos tornamos o que eles eram antes, nosso planeta, antes apenas um enorme aglomerado de nossa espécie de um metro, reconheceu as estrelas... Só que rápido demais, nós deixamos de existir, governando as terras mortas do agora Novo Mundo Zarr, o chamado Minorito.
As vezes, enquanto olhava para o céu escuro de nuvens eternamente nubladas, via uma nava Zarr, uma Ouroboras (eternidade), como chamava meu clã, aprendemos com os Zarr – que não nos matavam diretamente, mas, pelas suas ações no nosso planeta – estava escrito um dos mais famosos e repetidos provérbios destes seres voadores serpeantes, se para nós existiu o Olho por Olho, para eles existe:

Honra sobre Honra, honrai seu corpo e sobre o corpo inimigo, como fonte de Memória, serás Eterno enquanto as batalhas durarem – e como para os Zarrs, a Batalha pela vida era eterna, sempre haveria a necessidade de Honrar algo.