sexta-feira, 16 de julho de 2010

Sufrágio de ideários: Bigode de taturana!

-Férias... Putz, logo já tão indo... Nem ficam pra tomar um café!
Risadas.
-Ah! Cala boca gordo! -Berra mulher bela, morena de olhos verdes, sua face não tão concervada, porém ainda chamo ela de bela.
Na festa do filho de dois anos todos estão na diversão, todos navegam no barco da alegria de Heitor. Gordo -ou como me disse, "fortinho"-, de bigode negro e roupas ajustadas ao seu estilo, mas que nada eram caras (inclusive a mulher as usava para limpar o chão, as vezes as estragadas, outras ainda "usáveis", mas pra ela ao gordo não serviam mais).
Esse menino em corpo de velhote era um "coração de ouro". Não batia em cachorro, nem pisava em formiga quando criança, nessa fase também apanhava.
A mulher era Aurélia, como dicionário de ofensas, não peria a chance de descontar o pai bebum, o colégio e o enganador Romão, as roupas das madames da novela das 10 horas... O homem que tinha dava tudo que queria... Mas, o vestido da madame não!
-Vou comprar pão e passar no trabalho pra resolver umas pendências, tudo bem? -Disse o gordo Heitor.
-Vai logo! Bigode de taturana! -Ela lavava a louça, ele beijou sua bochecha e sorriu (ela, escondido, também). Saiu, ela foi ligar para alguém depois que terminou e lavar o prato do almoço.
Chovia, a fonte no Centro da cidade, com sua cara de cavalo parecia chorar a morte de sua mãe égua.
Heitor chegava em casa, descolorida e descascada, o serviço de gari não dava pra tudo. Barulho nos fundos, um barbudo sai de casa- calça recém colocada e cheiro estranho... O filho dormia na casa da avó, no outro bairro...
Arma do pai... A casa dele era perto.
Entrou, Heitor olhou a mulher.
Ela beijou sua face, "-Oi, Bigode de taturana!", disse num misto e seriedade e graça que me conquistou. Áureos tempos que namoravámos, não é minha velha?...
Assim, em vez de gatilho estourado, naquela noite foi gerado o segundo filho: Clara, de lindos olhos castanhos.
Vocês esperavam pólvora... Mas, houve sim esta. Trinta anos depois.
-Daí você corria e falava prô Seu Firmino: Vai lavá o pé, italiano porcatião!
Risadas.
-A piazada era foda naqueles tempos, não é Heitor?!
-É... Como falava o velho italiano: "-Piazada do capeta!"
Mais risadas no azilo. A roda de velhos se divertiam ao ouvir a lembranças, que também eram deles, do gordo de bigodes brancos chamado Heitor.
-Adeus, pai! -Disse o filho, último a lhe falar; a mulher saira para fumar um pouco. Ele inclinou a cabeça na cama da Santa Casa... Seu filho, médico que correu de simpósio na Itália, moveu-se rápido com suas calças boca de sino:
-Os tempos já são outros...- Pensou o pai, Heitor vira a calça... Lembrou daquela calça! Daquele barbudo... Mas, viu olhos verdes da menina, hoje mulher bela e morena.
Alma, se sorri, a dele sorriu e foi.
Aurélia, no dia seguinte, assim como no resto da semana, passou de negro. Aurélia estava sem palavras, dela pelo menos... Tentou lembrar de alguma piada do marido.
Lembrou da arma na gaveta. O novo marido comprara para a proteção.
Dedo no gatilho e...
Pá!
No coração ela teve certeza, mesmo não tendo morrido e nem atirado:
-Eu amava aquele... Bigode de taturana!
"-Açogueiro lento foi matar o boi, mas passou antes na venda, depois no bar e um pouquinho na casa da mãe, pra broa comer... Quando no matadouro chegou, pele osso e um bilete do cachorro Maneco que na frente do açougue ficava dizendo: -'Se por ti esperaste, morreria de fome!""
Risadas, dela somente. Mas, elas tinham sabor de lágrimas, era uma piadinha de festa de filho do Heitor, o Bigode de taturana dela.


MUSIQUETA DA POSTAGEM
Relacionamentos... Ó, se sente e imagine.
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