quinta-feira, 1 de julho de 2010

Sufrágio de ideários: Silvio, o mascate da Colt

(Esse post é um exercício se "egoísmo" meu, ele é uma crônica que resolvi escrever aqui -o título antes dos dois pontos indicarão isso, se não quiser ler, pule e vá para outra coisa)
Ele muito trabalhou, lutou cada dia em suor e cabelos brancos. Sua face era de um homem de cinquenta, mas tinha trinta e cinco e meio. Sua fala era pesada como a de alguém que tem uma grave doença nos pulmões, ele tirara chapas no médico recentemente, nada havia.
Viveu quinze anos outra vida, da filha de olhos esmeralda. Mas, agora tudo estava díficil: o leite acabara e o café estava caro... A Crise caía com seus tentáculos sobre a cabeça daquele pai.
Era inverno, geava e o rio Ivo congelava finas camadas de gelo em sua águas. Frias água como o frio que tomou meu coração... Eu, o pai, empunhei uma arma, matei o homem e ganhei vinte cruzeiros do Dom Rámom, o Chefe. Se no rio, congelavam suas águas o saco dos pirralhos que escapavam do Instituto de Educação para pular e nadar, afim de impressionar as bobas das carolinhas, também o peito da minha filha chiava e congelava... Estava com "o mal".
Se eu o visse, entenderia por que o pai fazia aquilo, sua filha vomitou sangue na escola, sujou o laboratório de Biologia. A pobre estava nas últimas.
Porém, eu -o pai que agora estou falando- não pensei na hora de fazer o serviço e matar o desafeto do Dom, o tal de Dantas comera a mulher dele; não sou o maior moralista, me sirvo como viúvo que sou, das "meninas" da Casa Roxa, na esquina da rua Quinze, mas eu receberia vinte cruzeiros... Vin-te cru-zei-ros! Quinze iriam para o remédio e o tratramento na Santa Casa, o resto para o material da menina, não me atrevo a gastar com putas o que é para minha filha... Para seu futuro!
No inverno que citei, vi o pai cruzar a avenida, eu fora ordenado por uma tal de família Dantas para dar um "passeio" naquele frio matutino. Ele saíra da farmácia com um embrulho debaixo do braço, tinha cara serena, mas mesmo assim, foi no local de madrugada, logo quando abriu. O pai tinha medo da polícia, era um pai, não assassino.
Hoje, dou a terceira dose do remédio... Minha filha já está melhor, hoje ela vai tentar sair da cama e...
Pá!...
Pá!
Coçei a barba por fazer, ascendi um cigarro, guardei a Colt; pensei em enviar algum dinheiro para a guria, mas, meu trem já estava pra sair e o quartel era próximo. Acho que a menina morreu ou foi prum convento, não sei...
Meu nome é Silvio, antigo mascate, atual... Atual "encaminhador".

MUSIQUETA DA POSTAGEM
Hoje, vou incluir a seguinte melodia de sombras
<'

Nenhum comentário:

Postar um comentário