sábado, 3 de julho de 2010

Sufrágio de ideários: A mãe que guarda

Era 21 de junho, o ano eu nem me lembro. Estava bordando e ouvindo uma AM de músicas calmas e baladinhas... Me ligaram, meu filho morreu.
Essa droga de prisão me atormenta... Maldita seja aquela mulher! Me casei com a desgraçada e agora estou aqui... Droga! A culpa não é minha!
A senhora de cabelos brancos e blusa de lã rosa saiu de casa, pegou seu carro (um modelo antigo e grande). Andava nele pelas ruas, era o começo do verão, mas era frio pela manhã. Pensava em como seu garoto -aquele que pasava em todas as matérias, quase entrara na Faculdade mais conceituada, a Federal, trabalhou duro por dez anos como caixa de supermercado e, hoje, tinha voltado a estudar e iria começar seu curso no fim do ano-, tudo era diferente agora: aquela mulher havia comido e vomitado o coração dele!
Vadia! -Pensou ele- Me traiu com o Roberval! Miserável, agora ela tá grávida dele... Se eu não fosse tão incompetente teria dado a bala na cabeça dele, não do pirralho burro do irmão! O filho eles era pra não ter pai, não tio!
Na noite de 20 de junho, uma corda foi estendida na cela 21. "O lugar só tinha um preso, a última rebelião coincidira com a transferência do rapaz, 29 anos, loiro, pesando 61 quilos, estava magro devido a prisão de quase seis meses. Assassino, morrera em circunstâncias de graves crises de depressão, viria a começar seu trtamento em um semana. Se enforcara com um cinto. Assinado: O carceireiro. Ratificado: O legista."
A mãe chegou, sua face dura como uma pedra, alma rígida de dor. Olhou para o corpo... Parecia só dormir...
Chegou em casa, não iria para o culto hoje. A alma não acreditava mais, só o corpo, este sim, acreditou nas pílulas. Uma azul, duas vermelhas... Um beijo do anjo do último suspiro, um sono eterno. A mãe viúva que não saiu por uma semana decidiu beijar...
E assim, tomou. Foi-se.
22 de junho, 4 horas da manhã mais ou menos. Porra, tô com uma maldita dor de cabeça! -O rapaz saia na surdina, em companhia tinha o legista do IML. Dele ganhara um par de roupas, já vestido com a calça boca de sino e com brilhantina no cabelo, estava um "cidadão comum", como brincara o seu comparça. O tal recebera o cheque, com data anterior a "morte" do emissor: metade pra ele, metade pro outro, o carcereiro.
Em um despedida silenciosa, saiu pela rua, tinha que pegar um ônibus. Iria sumir por um tempo, depois de alguns dias iria visitar sua única amiga, aquela que cuidou dele e foi visitá-lo na prisão. Não tentaria a busca de vingança por causa da vagabunda... Tinha apoio, tinha alguém que ele confiava e iria ajudar a começar uma vida nova: sua mãe.


MUSIQUETA DA POSTAGEM
Sobre descendência, escolho uma "seleção artificial":
http://http//www.youtube.com/watch?v=7PMKk3sLgVo

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