sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Sufrágio de ideários: João Catalun, Edgar dos pés de feijão I

 Estava no quarto branco quando me veio o pensamento, de repente: "-Poderia ir visitar a cidade Rubra! Isto me parece uma grande ideia!!". Sai, passei pelos guardas como o vento, fui na minha forma espiritual.
 Vinte minutos depois já cheguei, um caminho de doze quilômetros.
 Ela estava viva, como a virgem que conheci, mexiam as pessoas nela como formigas em um formigueiro de mel. A menina, a cidade, que se chama Rubra, estava se transformando -virando mulher ruiva e potente; os portos carregavam os grandes vapores de cargas das colônias e as putas no cais aos braços dos marinheiros caíam, os índices normais de um crescimento urbano.
 Andava por uma rua, quando encontrei um galante garoto, de fraque e cartola, pensei: "-Vou passar esse babaca pra trás e, com seu dinheiro, fugir da minha prisão. Me apresentei e disse que era um gran-milore (médico e feiticeiro), falei que conhecia o seu passado e fora enviado por um Grande Guru Panda da Montanha para aconselhá-lo. Ele, com fé sem razão, aceitou e fomos tomar um café.
 Me contou seus medos, ridículos, pois só os meus valem.
 Ele se chamava Edgar e disse que na vida tinha tido sorte. Andava por uma via, deserta e da região metropolitana, eis que então encontrou um senhor de terno vermelho e rosto oriental. O rapaz, como pessoa do campo, resolveu dar a conversar com o estranho. Esse homem dizia ter a solução para todos os problemas do mundo, que nem o Detentor do Anel Vermelho dos Desejos nem o Guru Panda da Montanha poderiam imaginar. "-Se nem os deuses poderiam ter esta capacidade, -imaginou o garoto- então isto deve ser bom!"; perguntou ao homem o que era:
 -Um feijão vermelho! -Respondeu o homem. Ele logo caiu da pedra que estava sentado, o garoto deu-lhe um tapa no rosto com toda a força.
 -Acha que eu sou um imbecil!! Não sou trouxa véio, posso ser pobre, mas trouxa não!!
 O velho, humilhado, levantou e continuou seu caminho, disse baixo: "-Isto sempre acontece!"
 Edgar olhou para ver se nada esquecera, já tava puto e ia continuar também seu caminho. Olhou para sua bolsa e viu que algo estava caído, era um feijão.
 Olhou, jogou no chão... Continuou um pouco, parou... Pensou, por um segundo acreditou.
 Nada aconteceu.
 Seguiu no seu caminho até que ouviu um barulho de um barco ou trem, sei lá, que o fez virar-se para trás, talvez houvesse algo lá!
 Não havia.
 Edgar seguiu pela estrada de paralelepípedos amarelos, depois de um tempo encontrou uma carroça. Pensou em pedir carona, pois já estava cansado. Contornou-a e deu de cara com um carroceiro enorme, um "gigante" de barba negra.
 -Pode me dar uma caro... - O homem parou seu carro antes dele continuar e disse: -Não!; -Mas, senhor... -tentou continuar o rapaz...
 -Não!! - Gritou o homem. O rapaz se conformou, porém antes olhou dentro do carro e viu um ganso, estranhamente quieto, havia apenas isto.
 -Miserável, ladrão!!  - O gigante desceu o braço na sua cuca e, enquanto o garoto estava caído, pegou uma pedra da rua. Edgar desesperado viu um machado pendurado na borda da carroça, ele correu. O homem tacou-lhe a pedra que acertou suas costas, o rapaz caiu mais uma vez, mas agora ele já alcançara a lâmina.
 -Ahhhhhhhhh -Berrou o gigante, enquanto Edgar corria ferido pelo mato, com o ganso nos braços, o bicho era empalhado! Porém, podia valer algo. O homem da carroça desmaiara, sem as pernas qualquer um desmaiaria!
 O garoto se escondeu na cidade, a guarda poderia ir em sua casa. Pagou com seus últimos trocados uma pensão perto do parque industrial, chovia e ele olhava para o bendito ganso empalhado.
 O bicho parecia falar com ele... Ou era o próprio Edgar se achando um imbecil pelo que tinha feito, num acesso na noite de insônia ele jogou o bicho na parede, o que deve ter assustado as trabalhadoras do cafetão no outro quarto.
 De manhã, depois de um sono forçado a bebida, Edgar olhou o bicho ali caído no chão; andava de um lado para o outro até que pegou o dinheiro para pagar mais uma diária à dona da pensão, caiu algo do seu bolso, ele olhou e era um feijão vermelho.
 Ficou trêmulo e olhou para todos os lados até olhar para o ganso. Suas penas caíram e ele viu algo brilhar, era ouro.
 Edgar saiu pelas ruas com fumaça e chuva. Corria com o "animal" na mão, ia ao Banco fazer trocas comerciais.


 MUSIQUETA DA POSTAGEM
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