domingo, 18 de novembro de 2012

Menina Coelha 3 - Ab ungibus leo


...

Dois em um pequeno carro preto: Alice e César. Lá se abria a enorme City Apple, com seus vinte milhões de habitantes, era tão enorme que as pessoas viviam em prédios em cima de prédios, formando enormes Teias Residenciais. Vendidas pelo trabalho por doze anos na Grande Empresa, única firma que funcionava e dava certo naquele mundo...
 Os dois seres eram menores do que tudo naquele mundo, eles não conseguiam achar nada ali... Não havia um rastro do Serafim, que diziam estar com o nome de Caído. Procuram por pensões e templos, bancas de revista e puteiros, mas, nada... Nos pequenos becos, apenas pequenas garrafas de vodca e palavras e russo-mandarim, indecifráveis para eles... Os dois aventureiros...
 Então, eles resolveram comer em um fast-food e viram, embaixo do copo de refrigerante de Cola de Alice, um pequeno papel:
-Socorro! – Lá estava escrito. E olhando para o lado, viram um senhor cinza, sentado em uma cadeira, magro e tomando a 4ª xícara de café...
 César então saiu do ombro de Alice voou para atrás de uma placa, aonde tomou uma lágrima e tornou-se o professor Elias, que reprovou o Pai de Violeta no último ano do Ensino Médio, velho bigodudo e alto, agora César sabia de vários cálculos matemáticos... Mas, isto não era importante, já que seus passos não deviam levar-lhe para isto. Foi andando e tocou no ombro do magro ser cinza:
-Saia, tenho de trabalhar! –Disse ele, com voz que sumia. Sua mão, porém, pegou na de César e escreveu:
-Socorro! Eu preciso de ajuda!
 Mas, o homem cinza desviou dos olhos do bigodudo César e saiu do fast-food, levando o hambúrguer para comer no trabalho. Alice seguiu seu colega enquanto eles perseguiam o cinzento até um enorme prédio, lá dentro, eles conseguiram ir apenas até as portas do elevador, pois,  seguranças com máscaras de raposa e arco-flechas os deteriam:
-Aqui é lar das Firma Grande Empresa, apenas funcionários podem passar... Ordem do nosso presidente!
  Alice e César ficaram em um banco de concreto no lado de fora, vendo o movimento da empresa, que parecia não ter funcionários, já que ninguém entrava lá... Então, César pegou uma Letra ao qual ele poderia perguntar qualquer coisa e pensou no que dizer... Alice, “afobada”, se antecipou e disse:
-Quem é o mestre de tudo aqui e aonde ele está?
-Alice! –Disse César- Agora perdemos mais uma pergunta!!!
-Olha! Eu posso ver o que é de cada Eu! Sei o que há dentro daquele homem cinza que vimos... Espere e veja o que a Letra dirá!
 Então, a Letra disse que o mestre de todo aquele mundo era um ser cinzento, que havia Caído pois se perdera dentro dos dias, dentro das tarefas de sempre... Ele se tornou um mero Ser-do-Sempre-o Mesmo. Para cada dia que ele tomava para si, foi criando uma raposa, que protegia o seu castelo, a Grande Firma. Que na frente dos dois estava!
 César amou por alguns segundos o fato de ter salvado Alice, e sua esperteza e personalidade. Mas, era calculista agora, já estava pensando em como entrar... Então, teve uma ideia! Com uma lata de refrigerante ele fez um focinho para Alice, que tinha cabelos vermelhos e orelhas, ao qual ainda pôs amarrada uma vassoura. Para César, uma calculadora e pastas...
 Foram rumando até as portas dos elevadores, quando o guarda parou-os, disse César:
-Sou o Contador
-Contador, o que é isto?! –Perguntou uma raposa
-É aquilo que conta, oras... Toda a Firma precisa de um! – E as raposas se olharam
-Olhe –disse Alice – ele está comigo, posso garantir que ele não fará nada! Sou uma de vocês!
-Você? Quem é você? Quinta-feira dia 20 de dezembro de 1982, conhece esta daqui? –Perguntou a raposa a outra
-Não, Segunda-feira dia 4 de outubro de 1973, não sei quem é...
-Oras! Eu sou... Bem, eu sou... Sou Sexta-feira dia 1º de maio de 1994! Dia do Trabalho!
 As duas raposas se olharam e pareceram respeitar aquela raposa mais que eles, pois, “era uma nobre” e, com uma referência, deixaram eles passarem e apertarem os botões:
-Mas, espera! –Disse uma delas, - Isto não foi Sexta, foi numa Quarta! INTRUSOS! – E as raposas pegaram seus arcos e bestas, nisto, os dois aventureiros entraram no elevador e apertaram o andar 11
-Por que 11, César?!!!
-Por que é um número repetido, parece uma rotina, não?
E lá foram os dois, enquanto as raposas foram pelas escadas, pois não sabiam largar as armas e apertar botões ao mesmo tempo.
 Foram ao 11º, nada. Foram ao 22º, apenas um enorme escritório de biombos vazios... Então, apertaram mais uma vez e no 33º abriram as portas e estavam já com patas de raposas – elas tinham 4 patas, sobem 4 vezes mais rápido!!!
 No 44º, os dois saíram e deram de cara com uma sessão só de scanners e calculadoras... Quando estavam quase desistindo de correr entre os corredores, viram em um do canto ele: o Serafim Caído... Ele tirava xerox de um memorando, um mesmo memorando... Mesma página de uma mesma história.
-Hey, você!!! –Gritou Alice em seu ouvido
-Hey, o quê? – Se assustou o homem cinza, tanto que até ganhou cor...
-Vamos sair daqui!! – Gritava Alice com ele, enquanto César o olhava...
-O quÊ?!!! Não!! Tenho trabalho a fazer!!! – E o homem cinza ficava cada vez mais colorido...
-Pare, Alice –Disse o pássaro – Olhe ele, está assustado... Está...
-Hã? – E a jovem coelha-moça percebeu, as cores do serafim voltavam, enquanto ele se assustava cada vez mais...
-Se a rotina dele criou tudo isto... –Disse César- Para cada susto na vida, há uma resposta de fortaleza e colorido dele!
-Mas, com  o que podemos assustá-lo mais?!! – Perguntou Alice
-... – Calculou o pássaro, enquanto o serafim caído ficava agachado, assustado, ao lado de uma copiadora – Já sei!
 Então, abriu-se as portas das escadarias e vieram as raposas, Alice, pegou uma cadeira e golpeava uma, tentando detê-las, mas, logo, vieram flechas e uma acertou o Serafim... Neste momento, César agarrou-o pelos cabelos e bateu seu cara na luz da copiadora, tirou uma folha e mostrou para o Caído...
 Ele olhou, ele estava com dor e vendo a si mesmo... Então, tudo se desequilibrou e o chão se tornou líquido!
 Todos afundaram e só acordaram no alto de um prédio:
 César olhou para um enorme ser masculino com peruca loira e vestido de bolinhas, ele carregava uma escopeta numa mão e uma espada na outra, fixava seu olhar no topo de outros mil prédios. O pássaro acordou Alice e disse:
-É ele?! Será ele?
-Sim, sou eu, pequeno aventureiro... Pelo seu ato, todos os meus exércitos serão teus... Mas, terei de derrotá-los primeiro!!! – Ele, o enorme ser andrógeno, golpeou uma série de dardos voadores e os transformou em cinzas... – Salvarei vocês simplesmente porque me ofereceram algo que ninguém jamais me dera: um momento de alívio e lazer, um pequeno suspiro, uma pequena lembrança boa, até, queridos!
 E atônitos, os dois foram assoprados pelo Serafim. Porém, antes deles serem levando pelo vento, ele os advertiu:
-Cuidado! Na última Ilha existe o mais mortal de todos nós, com ele, apenas um pode atravessar o buraco de agulha que é seu coração... E, jamais, jamais, olhem em seus olhos, pois todos que tem vida neles quando os verem são roubados!
 E os ventos levaram os dois, já César era um pássaro e Alice o segurara contra o peito, enquanto viam o grande Serafim Caído lutando com seus dias da rotina, em batalha furiosa. Foram para o Norte, última ilha para salvarem Violeta do Hospital, a Los Petras.
...
Era árida, apenas cerrado de baixas árvores... Duas horas andando e já chegaram na costa da pequena ilha de Los Petras. Um enorme conjunto de pequenas árvores secas e tortas, com construções devastadas. No centro, uma Monólito.
-César... –Disse Alice – Você disse que o último Serafim era o Mudo... Será que ele?
 O pássaro olhou quieto... Ele via aquele estranho monumento, sabia que algo estava ali... Mas, um pensamento maior o incomodava:
-Alice... Eu te amo...
-O quê? Mas, você não tem sua família? César?!! – Então... A moça-coelho viu César tomar uma lágrima e se transformar em Cimitarra, ao qual ele disse:
-Sei que você amou este homem-deus, pois ele te deu vida... Mas, fui eu, Alice, fui eu!!!  -Então, César agarrou Alice para beijá-la, e ela bateu eu seu estômago e correu para perto de algumas árvores... Nisto, vei um pensamento que a incomodou:
-Este maldito... Ele me matou! Ele me deixou ser devorada por aquele monstro-dentes-de-sabre! – Alice olhou para o lado e havia uma faca, ao seu lado, uma peça de xadrez que ela nem notou: um peão.
 A coelha-moça pegou a faca e escondeu sob o vestido de flores azuis... Chegou perto do obcecado e babante César, que a agarrou.
 Logo, ele a deitou na relva dourada, mas, mais logo, um filete de sangue caiu sobre a terra e um berro de César. Ao lado de Alice, ele gemia, parecia assustado com algo que via:
 -Adeus! – A coelha iria matá-lo, porém, olhou bem em seus olhos... E o viu.
 Girou a mão e rodou para trás, neste momento, um vento se deu e o véu escuro da névoa se tornou ele, o Último Serafim. Em silêncio, o ser era pálido e seus olhos vazios... Alice não olhou para eles, lembrou do conselho do Caído, vi-o pelo reflexo da adaga...
 O Ser mudo, então, olhou para o chão e a menina-coelha também, lá estava um tabuleiro de xadrez, com peças... O tabuleiro se estendia pela relva... Se estendia por tudo!
 O Serafim pegou duas peças e as jogou para longe, César e Alice foram lançados para o outro lado da Ilha... Que eram pequena, como a chance deles de ficarem vivos...
 A coelha então abriu um buraco e os dois se esconderam... Ela tentava fazer uma tala para o braço cortado de César:
-Alice... Descobir algo... –Falava enquanto gemia – O Pai de Violeta... Ele... Ele... Esta lembrança é de sua morte, quando os Serafins o levaram... Eu sei por que...
 -Hã?
-Ele... Ele por uma vez fez algo perigoso, ele teve um sonho! E os serafins não puderam mais matar os anjos... Não puderam governar o mundo... Pois, com um sonho, o Pai seria o mestre deles, pois, barganharia com cada um...
-Mas, ele morreu por quê? Não tem sentido! –Gritou Alice
-Por que a vida não é feita de sonhos... Eu vejo isto agora... Ela é feita... Por nossas mãos!! – E César viu que tinha o poder de um Serafim, e se curou do corte, disse ainda:
-Alice, busca o que é este ser... Quem é o mudo!
 A moça-coelho olhou para o papel em que estava escrita a última letra... Pensou e perguntou:
- César quis me amar, eu quis matá-lo, o Serafim Mudo é aquele que está com nossos desejos mais profundos e secretos... Mas, qual é o dele, o que ele quer e ninguém sabe?!
 O papel lhe respondeu... Ao pé do ouvido
 Neste hora, abriu-se todo o chão e apareceu o Serafim, com dois pequenos peões...
-Eu lutarei com ele!!! – Gritou César, cheio de si.
-Não há como lutar com nossos desejos mais profundos... Amigo... –Disse Alice, e nisto, olhou para o fundo dos olhos do Serafim...
-Olhe para mim, vil criatura muda!
E ele olhou
-Eu te ofereço algo que você quer, mas, que esconde em segredo para sim mesmo... Eu te ofereço, uma nova chance!!! Uma vida mortal!
-... –A criatura muda olhou Alice... Sem palavras, ou melhor, se movimentos ou pensamentos, algo dentro daquele manto de neblina bateu: um coração de metal voltou a bombear. E uma lágrima desceu do rosto do Serafim...
-Alice! –Disse César, voltando a ser pássaro –Você?!
-Apenas um deve terminar esta viagem, meu amigo César... Vá, vá e termine com isto... – E debaixo do vestido, Alice, a menina-coelho, retirou a maçã-de-vento, ela mordiscou um pedaço e derrubou o resto, que caiu na terra e afundou.
 Seu corpo de moça expandiu até virar uma gigantesca bola de carne... Então, o Serafim puxou com um vento e, César ainda teve tempo de se agarrar na mão da moça, que apenas uma lágrima derramou...
A Neblina a engoliu e, depois, explodiu...
Todo o ar nebuloso de Los Petras saiu, revelou-se o sol e do sol acordaram brotos...
 -Olá, Guerreiro César!
 O pássaro acordou feliz, pois era a voz de Alice, porém, não era mais ela. Apenas com sua face e orelhas, estava mais alta e com uma couraça de armadura negra, sobre capa branca, não, não era mais ela:
-Sim, sou eu, o Serafim Mudo... Você me conquistou, derrotou-me, mesmo que não tenha sido você...
-Então, Alice...
-Ela está bem, ela será eu e será imortal, como eu sou... Agora que meu vício foi morto, farei com servidão o que me pedires... Sei quem és e a quem serve...
-Sabes? –Disse o pássaro, chorando por dentro pelo que ouvia, ainda confuso
-Sim... Um Pai que uma vez teve um Sonho... Ao qual está cada vez mais difícil ter hoje... E o seu sonho está em sua filha, está lá... Não deixarei que nada aconteça a isto... Apesar de ter matado ele há anos atrás, quando com engrenagens ele fez este sonho...
-Por quê?
-Oras, agora eu tenho uma nova chance... Só precisava disto... Só precisava de... Alice – E ele sorriu com o sorriso dela, que não estava mais ali – Agora, vá, eu cultivarei aquela maçã e logo terei milhares de novas chances... Mas, primeiro, você tem de ir ver seu mestre... Vá, vá e faça você mesmo!
 E o Serafim estalou os dedos, e tudo não passou de uma tela de pintura: o Pássaro César estava novamente lá, aonde tudo começou, lá: entre lápides, viu aquela de seu mestre... Aonde apenas estava escrito:
Saudades. 

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