Jaime, o lobo
Perdeu seus dois olhos
Em batalhas antigas
Traído pelo seu próprio reflexo
Entorpecido pela bebida de sonhos loucos
Voando como borboletas
O guerreiro sem espada
A tempestade sem vento
Perdeu-se no deserto
Algum tesouro para lá estava
Observou o abismo, que permanece lá
Nele
Olhando-o todo o dia
Fazendo-lhe noite
O lobo caminha pela estepe, fria em seus pelos
Caminha entre as rochas
De uma esquecida cidade, Afrodite era seu nome
Já jaz ela morta, entre escombros
De último beijo perdido de Jaime
E lá, no poço daquele mundo esquecido de si
No fundo daquele poço
Cravada um sabre estava
No próprio coração do mundo
Ao qual já não via amor
Mas, via amigos
E pouco a pouco
Alguém podia lhe dar a mão, um abraço
Ou um simples obrigado
E isto, isto para Jaime
Sacrificava o mundo, iluminava tudo
Com alguma caridade aquecida
Jaime, o lobo
Ainda sem vistas
Podia enxergar de novo
Agradecer o poder do ensino
Sobre seus ossos esmigalhados de gelo
Lástima e saudade
Sobre um resto de fraqueza magra e pálida
Um pouco de nobreza nos olhos
Jaime, o lobo
Ainda vivia
Para ensinar os outros o caminho.
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Não podes escapar do olhar da Lua, pequena, não podes Nem do meu O assassino em cada esquina Olhar de médio aberto Nos semáforos de cada via caótica Desta cidade que não dorme Nem você, minha pequena Minha pequena Lua Brilhe para mim, com sua luz pálida ainda mais uma vez Que abrirei meu coração para você E gritarei para todas as estrelas terem inveja de você Nunca mais saindo do meu peito Este pânico Será vencido Eu vencerei a Lua Eu deixarei de ser apenas aquele que chora Que cai Que se dobra ao destino Calma, minha pequena Eu poderei Derrotar-me de minhas preocupações Resistirei Às sombras de cada beco, àquelas que surgem quando Fecho os olhos abertos Nesta caótica cidade Não podes escapar do olhar da Lua, pequena Então, abrace e enfrente O Azul dos céus Está contigo.
Curitiba é... O silêncio e alguma angústia. Temos aqui um Kierkegaard em Kafka, uma cidade poderosamente que é seu tempo e clima, como muito de nosso vício brasileiro em Geografia, mas que nega o vazio de heróis com uma certa atitude irônica, um certo brejeiro, uma bruma nas estações... Um verão de chão português que cega, uma primavera de maneirismos e flores importadas, um outono louco, um inverno apaixonado e sempre esperado e esperançoso, de neve. Em fumaça da boquinha, amarelo iluminado. Somos de amarelo, postes amarelos, sorrisos amarelos, uma certa hepatite do tio da esquina, para além da Curitiba Perdida - cada bairro e vila, um mister de rigor. Linhas rigorosas em cada rua, curvas, morrinhos ao norte, rios ao sul, serra ao leste, campos à oeste. Curitiba abarca um certo cosmos de nada, mas um nada de tédio, um certo domingo de café. Ela é uma xícara de café coado e vaporzinho de inverno iluminado, pelo poste amarelo e, claro, umas araucárias presas por aí, na cadeia urbana. Curitiba é tudo que tenho, ou tive, é um lar desesperado, porém disposto a uma diversidade, mesmo e por nós sermos conservadores. Conservamos o blasé, uma certa tecnologia da ironia, um antifolia e utopia que é difícil medir, mas que sempre ali esteve, tirando uns momentos de alardia ou alergia. Curitiba é minha Königsberg não no coração, mas no passo, este jeito de andar desconfiado, do polaco caboclo enluado.
O gosto inebriante do silêncio Sem a falsidade das pessoas Ou à minha.
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A corda que afaga o pescoço Decepção de cada sonho
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E que em minha lápide 'teje Perdido, perdeu-se, Mas, ajudou a encontrar-se, alguém?
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"Querido Emanuel, digo-te estas palavras, antes que meus ossos partam pelas estradas que me escapam os anos: -A ajuda deve ser feita, oferecê-la por simples ato de educação é um dos piores males dado àquele que já perdera o espírito... -Meu mestre, ao senhor, posso ajudar? -Emanuel, terei eu sido honesto contigo ou consigo, ou apenas na sombra de minhas palavra, sou apavorado pela face daqueles com quem falhei? -Não sei, meu mestre. Ao senhor, meu silêncio. E Emanuel, desapareceu no reflexo do espelho." (Emil Hadaward, Livro II - Juventude)
--- Não acredite no bem ou em que diz ser do lado bom. A bondade é uma ação, não discurso.
--- É na fraqueza que deve-se ser forte.
--- Conheci um homem que não se sentia mais capaz de amar mais nada. Tinha deveres, honra e buscava a caridade, mas, amor, isto ele já não podia mais. Hoje o encontro todos os dias, a cada vez que penso sobre mim mesmo. É uma pena, não me desculpo ao gênero humano, acredito apenas em pessoas.
--- É uma pena, não me desculpo ao gênero humano, acredito apenas em pessoas.
--- O homem que perdeu sua intimidade, converteu a si mesmo em cetro vivo de força passiva e fúria lasciva.
A dor que não dói
A depressão
Percorre o rio que estou afundado
Não vejo o tempo
Não me importam horas
Ninguém, tudo me afeta
Para mostrar-me como
Ninguém, nada
Negação do princípio
Perdi minha pessoa
N'algum mar que afundo
Já não dói mais
Nada
Nada
Não chego a praia
E, se lá chegasse, seco de lágrimas estaria
Já não estou em nenhum lugar
Não sei que horas são
Meu copo está vazio, chame o garçom
Mas, o bar está vazio
A dor não dói mais
Estou no fundo do vale
E todo o mar de mim corre pra lá
Adormeço
Odeio cada luz do novo dia
A me mostrar
Este limbo que sou
Sou, nada
Nado
Buscando profundidades
Neste raso de mim
Já nada dói
E sigo o horizonte
De nada.
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Viver é também cultivar amigos
Sonhar é um pequeno sopro Começar é difícil Manter é o desafio E cada semente espalhada, de sincera Espera amada Abraço ou agrado Palavra gentil inesperada É o cultivo de árvore De raízes espalhadas No ato infinito, da presença do ser Consegue ouvi-los, os que aqui estavam? "Caaarpe Dieeeem"
21/09/18
As vezes você só
Não pode
Existir, escutar, ficar perto de alguém
Você se torna seu único companheiro
Mas, é um mau amigo, você sabe que é
Batendo, aí, pulsando essa vida
Toda a sua existência parece uma poeira
Mas, falar disto com outro, um vivo
É difícil
Ora simples vagabundagem, ora fraqueza
O peso dentro de si permanece
Mas, medido na balança, não passa de vazio
É o vazio mais pesado que existe no seu mundo
Você mesmo
E na existência perdida de sentido
Me sento embaixo de uma árvore
Vejo as nuvens passarem, sinto o vento na minha pele
Já não vejo mais a pessoa que sou
Aquilo que fui, por momentos me atormenta
Meu futuro, farpas que furam minha alma
Continuo, porém, continuo
Andando por aí, nesta cidade vazia
Algum fio me toca, algum laço por alguém
Alguém que jamais precisa nascer
Alguém que não precisa me ouvir sempre, mas
Preciso sempre saber estar comigo
Você sabe o nome deste alguém, confie nele
Se segure, a viagem é longa e apenas sua
Segure as pontas
Não é garantia de dar tudo certo,
Porém, também que dará tudo errado
E se, não der em nada
Olhe, olhe a paisagem
Algumas vezes, não posso existir
Mas, eu existo
E vou lutar com todas as minhas forças
Mesmo com o desdém daqueles que fingem a perfeição
Para manter-me ciente:
Sou pó
Mas, de poeira, também são feitas as estrelas.
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22/09
Já não posso ver mais minha casa daqui
Não existe mais a poeira sob meus pés
O vento é encapsulado
Respiro com dificuldade
Vejo seu rosto, mas, já não posso mais senti-la,
Batendo, como a guitarra de nossos corações
Ora ocos
Ora, queimando com o calor de mil sóis
Sim, estou no meu caminho de prata agora, Magnólia
Mas, ainda te amo
Ainda te amarei sempre que você olhar aquela cadeira
Aquela em que víamos as sete luas
Cobertas com seus céus azulados
Em Saturno,
Sobre a diabrura de alguma obra de astronomia
Sobre meus ombros
Todo o seu amor cego
Que tateava-me todo com seus abraços
Adeus, minha querida Magnólia
Nos veremos no céu, seja ele vazio, seja ele tudo
Seja ele o que for
Agarra na minha mão naquele sonho de verão
E vem,
Vem tomar um café comigo?
Imagine-se como um jovem, nascido em um momento da história humana jamais visto, aonde as conquistas do ser humano vão de observar os altos céus e construir aparelhos jamais operados ou imaginados. Porém, a miséria está por toda a parte, a desigual e degradante situação de alguns poucos miseráveis se compara ao interior dos homens, jogados às traças em sua força, condicionados à rotina, enfraquecidos. Sua força vem sendo paulatinamente retirada por instituições, o Estado, as igrejas e mesmo a cultura, copiada de outros países, já não nos responde mais nada... Estamos em estado terminal, gritamos por algum socorro, já ninguém nos escuta, aquilo que podia nos ouvir, já jaz morto.
Matamos Deus, ele não pode mais nos ajudar.
E como forma de compensar esta perda, este motocontinum que já não mais existe, começamos a nos juntar, servilmente, uns aos outros... E esta aglutinação, damos o nome de sociedade. Um enfraquecer as das pernas e músculos cerebrais, um outro nome para a derrota, é precisarmos do coletivo.
Não, ser este ser gregário, fraco e piedoso não era o que os antigos fariam, não. Aqueles que andaram por todos os continentes, exploraram terras que jamais foram vistas, com pouco mais que pedras e lanças, estes não adoravam deuses que podiam ser mortos, não, estes não eram apenas mais um na marcha da História... Havia algo ali, algo que nos foi consumido por esta estoica fé cristã. Algo que nos dava força e norte, nossa própria potência, nossa capacidade de transcender pelo cultivo da festa na amargura, a dança na morte, o combate no inevitável, mesmo que para fim algum.
Não, não há de certo um fim da história, a realização utópica é, no pior dos casos, apenas nossa força interior, nós podemos enquanto Eu. Mas, não apenas um Eu com todos, um SuperEu, que contemple-me enquanto tudo que eu possa realizar para dominar este mundo. Nesta Terra, voltada aos furacões e gélidas montanhas, mesmo em toda a selva de bestas selvagens ou desertos escaldantes, sempre haverá homens dispostos a transpor, a atravessar este Rio Caronte, porém, sem barqueiro, ele será o barqueiro.
Na água da História sem destino, não há estrada, há apenas um círculo, um eterno retorno de tudo isto, minha vida nasce miserável, vivo-a conforme a dança e as tradições, morro-a. Futuros pensadores dirão algum devir inexpugnável.
NÃO!
Supere a sua autofagia da rotina, se supere sendo a Montanha! Seja a própria força, pois, à força de tudo e sempre, em todas as épocas históricas, a minha busca e a sua, se ver honestamente os seus desejos primários, antes de sua educação que o enfraquece com regras de elegância, é o Poder. A potência, a própria superação de si, esta é nossa razão, faça sendo, aja e existirá, pois, não há motivo para isto no final de tudo, apenas agora, apenas neste momento, apenas um ideal morto, porém não mais estéril como o divino, há apenas, o realizar-ser.
O Supremo Senhor de Si, será aquele que transpor-se nesta trágica estrada e governar, tudo. O todo seu.
...
Assim, encontrei este trecho em um pequeno diário de meu avô, Joaquim. Ele não morreu na guerra, como contava sempre. Ele não morreu enquanto andava, na sua viagem rotineira pelas manhãs e fins de tarde, indo e voltando no seu trabalho nas lojas Departamentos no Centro da cidade. Não morreu quando enterrou Alípia, minha avó, nem mesmo quando viu o país perder a Copa e jurou nunca mais torcer por nada.
Joaquim morreu esta semana, em casa, dormindo. Era uma pessoa extraordinária, tinha amor pela vida... Uma força dentro de si, porém, um amor ao seu destino, que ele não me transmitiu, infelizmente... Vejo as coisas escritas aqui, me dão náusea.
Não existiu um caminho tão glorioso, talvez não mais existirá... Como foi com meu avô Joaquim. Tudo é palavra hoje, o homem se fez verbo, não mais existe gente nesta Terra, ao qual o sonho de potência, já se enterrou como pó de alguma estrela. Porém, ainda posso tentar, como ele, viver o melhor que puder, superar-me... É, farei isto.
Amanhã, falarei com Catarina, amanhã, levarei o cão a passear e começarei a ler meus livros da faculdade atrasados... Amanhã serei eu novamente e, quem sabe, poderei ser mais que eu!
Amanhã, serei livre!
E a força dentro de mim se renova, o ciclo da História quebrado, por uma simples busca de superação deste corpo, deste instinto gregário, que ajunta bobos e dançarinos... SIM! Dançarei! Como os servos de Pã, como uma bacanal, dançarei neste meu estado deplorável de ser, eu, mas, caminharei intensamente... Buscarei ser, Joaquim, para além dele, para além de mim.
...
E, então, Prometeu acordou de seu sonho.
Ainda estava preso, porém havia levado o fogo ao homem.
A águia lhe comia o fígado, mas, havia iluminado a visão de todos.
Já não havia mais apenas frio, o calor do sangue da tecnologia.
Técnica se tornou romance, e o romântico apertava os parafusos.
Do robô niilista que se tornou.
E, num futuro não muito distante, com um coração de um Replicante.
O caçador de androides se perguntava:
-O que sonham, as ovelhas elétricas?
-Com Joaquim - respondeu Nietzsche.
Nunca poderia escrever um romance
O tempo das palavras
Sua distância em períodos distantes
Bem, meu amigo, já se deixaram em mim
Recuou-se
Revolto
O mar das frases, dos capítulos perdidos
Sobre náufragos e astronautas, de algum planeta Terra
Escondido sobre minhas pálpebras
Sobre sua boca, que repete o que escrevo agora
Em sua mente, ou em voz alta
As letras de um poeta sem rima
Um romance abortado nos confins de um berço
Vazio
Nunca poderia escrever um romance
Me falta o tempo da palavra
Me falta o tempo
Tempo da alma
Alma em pedaços
De algum terraço
Uma moça me espia na janela
Eu sorrio pra ela
Nunca poderia escrever um romance
Pois, não tenho você
Poeta que está dentro de mim
Você se perdeu
N'algum de meus oceanos mentais
E agora, fiquei com as frases sem rima
Dissabores do mesmo tempero
Fagulha apagada da mesma vela
A iluminar seus ruivos cabelos
Em alguma lua de prata
Ou apenas ilusão
De um terraço que em que vejo
Pássaros na revoada
Voa, voa palavra
Escreve o poema sem rima
Avisa o náufrago de sua sina
Alerta o astronauta os perigos do vazio
Que dali, em meus períodos distantes
Dali escrevo meu romance
Já não mais sabendo entre eu, e a biografia
Recua
Recuo
Volta
Volto
Mar de oceanos de mim
Céu de você, que me lê
---
E na severidade, o místico entrou sobre os palácios da Terra, onde os doutores diziam serem a própria Lei. No seu lado sombrio, todo o oceano das amarguras das infindáveis rotinas, dos velhos amigos aos poucos abraços, um pouco de si, ainda aluminado, caminhava, em solo de fúria, por um vale de ois e tchaus nas lágrimas dispersas na chuva. Voa, pássaro, voa e tenta, pois é o que lhe resta