sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Carta da ponte de partida #Agentes do Caos


 Esta chovendo e olho para meu relógio de pulso de cobre que comprei por £500 no Natal passado de presente para meu falecido pai. Na ponte Severn eu observo o movimento d'água: penso seriamente em me deixar ali... Acontece que nunca podemos realizar todos os nossos sonhos e isto me angustia: afinal, não somos nós os nossos próprios Deuses? Seremos tão incapazes a ponto de não podermos ter aquele que queremos amar ou a coisa que nos completara como seres humanos no período de um dia e amanhã, já será o outra? Bem, eu não sei e talvez nunca saberei, pois meu corpo desce com a Lei da Gravidade e meus pensamentos estão em total confusão aqui e ali, buscando um eixo de simetria que eu sei: Não Existe; total é nossa busca por um Padrão, uma Lei, que dê sentido, nos complete, que sempre buscamos nas irrealidades e fatos fantásticos aquilo que nunca poderemos cumprir em vida: mesmo com a mecânica quântica, as coisas continuarão, na maioria das vezes, a cair para baixo -mas, aí, você que é crente e/ou romântico como eu dirá:"-Mas, ainda há a possibilidade!"... Só por que posso abrir a porta e achar o ser que me complete ou ganhar na loteria depois de quinze anos jogando não quer dizer que eu não vou morrer solteiro, sozinho, e pobre e iludido como estou morrendo agora, não é? Fato é que ainda estou caindo aqui e ali você me vê com seus olhos questionadores de: "-Fraco, este homem é fraco"... Bem, fiz uma coisa que você, o Forte e o Intocável, talvez nunca tivesse coragem, ou melhor, nunca deu valor, pois, não se questionar a respeito -nunca em toda uma existência- é pior que tê-la deixado para trás e ter se entregado ao nada, sim, já que vivemos de memórias e em memórias, agora só existe sob o pensamento de alguém que passei alguns minutos, entre um amasso e um "oi" pela net... É certo que não encorajo ninguém a fazer tal ato, pois ele é desapegar-se ao bem mais útil que temos, mas digo que se questionar é sempre válido para que não se pense e se cumpra, o que acabo de realizar: me joguei e, talvez, tenha me arrependido um pouco, como tudo na vida: há vários caminhos, mas não há punição por escolher um ou outro e chorar um pouco depois de iniciada a caminhada... Quem punirá será nós mesmos, e ponto, logo, punir-se é uma escolha... Não me puni, só tentei me libertar. Talvez haja continuação, num caminho ou em vários.
 Agora parto.
                      *
 Carta de Ran D'Shotgun encontrada em 7 de janeiro de 1975; um livro de capa preta e seu carro azul também foram achados, mas nenhum corpo, durante muito tempo. 

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