domingo, 23 de janeiro de 2011

Tecelões de Vida: Prólogo

 Há muitos anos, mulheres chamadas Moiras nos representavam. Três senhoras que o destino liam, com finos fios teciam, a vida da Humanidade. Nós, iguais a elas, existimos; somos Os Tecelões.
 Num dia frio em Barbek City, uma sombra se movimenta através do bairro frio de Parolli, tendo a direção da casa principal, a maior e mais velha; se vira antes de qualquer coisa a atingir... Luta com algo que se move muito rápido! A coisa se mexe e a sombra se defende com movimentos de mãos, saltos, macaquices. Súbito, tudo para, ela não mais se mexe, com uma mão retira uma pequena ponta de ferro, uma gilete: corta em partes algo no céu e coisas invisíveis em suas mãos. Atrás, ao lado, na frente, três, quatro, homens caem, mortos.
 Desce a rua, chega ao portão, entra e vê: A Velha e sua Trupe; Circo dos Horrores, assim ela os escondeu de seus espiões, não mais, não mais...
 -Você vai mesmo tentar isto, irmão? -Fala A Velha, uma linda mulher de cabelo negro, franja e sensual roupão
 -Sabe, eu nunca achei que chegaríamos a isto! -O garoto, talvez novo namorado dela! Mostrava sua intromissão de cunhado, levantava uma espada
 -Acabemos com isto! -Uma jovem masculinizada! A isto me parecia a terceira atacante, com duas pistolas; era apenas uma elfa descuidada
 -Vai pagar pelo que fez a minha família! -Falou o baixinho ruivo, um goblin que se escondia sobre o nome de Julio Quixotte -família nobre, mas morta
 Vários estavam com eles, mas não dei importância: levantei minhas mãos... Os cordões da vida apareceram: chamamos de cordas, ligam tudo em nós, são parte da conexão com o Universo da Existência, a única coisa que existe fora das Cordas é o Vazio. Mexi as mãos rápido, minha irmã fez o mesmo e logo seu roupão branco voava, assim como minha roupa preta: bailávamos no ar, logo, tiros foram disparados dos 38 e carabinas, desviei, mexi minhas mãos num lado e noutro, nenhum tiro a mais:
 -Eles foram preparados para morrer! Apesar de pobres, não tinham medo do Vazio pós-morte! -Falou Isís, agora de nome Safira Blade; movíamos os dedos e cordas finas, transparentes e luminosas, surgiam se amarravam mais e mais: mexi meu braço e amarram-se infinitas numas viga, outras, numa fachada, arranquei-as e lancei sobre ela, que reagiu desviando e lançando-me uma pá de terra, rebati!
 -Você parece evoluído nos poderes, jovem irmão! -Ironizou, não pensava no momento que era ironia, mas, então, nossas cordas ficaram tão amarradas que ficamos de frente um para o outro: era minha chance, se cortasse a corta mestre que todos temos na sequência de nossa coluna (onde dizem estar os chacras), mataria ela -isto me condenaria a morte, mas e daí? Era minha inimiga!
 -Não! -Gritaram os jovens lá embaixo, que, parados, não interferiram na batalha dos adultos; nem precisaram, A Velha retirou-me para trás com um chute e desembaraçou os fios, me lançando sobre a estufa, no terraço da velha casa; lançou-me pedras e uma viga de madeira: usei o controle sobre a vida, puxei ramos de árvore e fiz um escudo, fazendo eles crescerem em forma de dólmen.
 -Andou aprendendo a controlar as forças vivas, hein Sama? -Tive medo do que ela faria a seguir...
 Puxou as mãos para trás, lançou muitos fios, moveu rapidamente os braços para frente, trazendo com sigo uma enxurrada de pássaros, parada, no chão, ela me lançou tal ataque! Fiz tudo que pude e construí um dólmen melhor, mas, os pássaros o perfuraram; cai do terraço e quase morri na queda: o jovem com espada tentou aproveitar a oportunidade, segurei a lâmina da espada e quebrei seu braço, joguei-o na revoada de pássaros. Isís viu isto, desviou a maioria deles, os que sobraram foram mortos por mim, agarrei no chão e dele tirei cães que destroçaram alguns, porém, era muitos e eu corri para um paiol, atrás da casa.
 -Você está bem? -Perguntou a velha ao jovem, ele respondeu, envergonhado, o idiota, que sim; os outros dois vieram acudi-lo.
 Estava morto, não conseguiria escapar a tempo pelas árvores antes que a mulher as derrubasse, se pudesse, perderia tempo pulando a cerca, assim poderia ser pego: estava nas últimas! Mas, então olhei para a Lua...
                                                                      
                                                                       ***

 Deserto da Pérsia.
 Abri os olhos, mais um dia, mais um momento no exôdo, lá ia eu, andando, andando, dias e noites, andei tanto que cheguei a uma área de conflito, pelo menos era o que os pastores falavam. Vi um jipe se aproximar, dois, três soldados dum exército rival ao daquele país estavam ali, talvez, secretamente; pararam-me, um pediu os documentos, que não tinha, pois não sou dali, outro, mais corrupto, falou que minha túnica de linho preto deveria valer alguma coisa, perguntou seu eu não tinha nada mais a dar -os outros dois calaram-se. Nada tinha e ele mirou na minha cabeça o fuzil, mandou eu lhe passar minha bolsa e minha túnica, eu era um sujo daquele país e deveria sofre e...
 Mexi minha mão e ele deu um berro, disparou para cima suas balas, os outros dois ficaram assustados, quando tentaram uma reação, mexi minha mão e lancei um para trás, agarrei a arma do outro e dei-lhe um soco. Com estes movimentos, já tinha pego os fios da vida deles, amarrei em um bolo só, cortei duma vez, através duma lâmina que tinha em um dedal.
 Seguimos com o jipe pelo deserto frio, pois já anoitecia. Cortei a cabeça de um dos soldados, o que pediu-me os documentos, e a enterrei, vesti depois seu uniforme. Os outros dois estavam calados, as vezes babando, um sangrava e não era nada bonito... Como cortei seus fios de vida, agora eu seria o seu Senhor.
 Achamos o helicóptero que os levaria para a base, não tinha tempo para conversas, mandei atacarem; lançaram o carro no quarto soldado, outro no helicóptero reagiu e matou um dos meus, estourou sua cabeça! O outro tentou me acertar, desci e catei o fuzil do morto, atirávamos com os fuzis, até que eles pegaram a metralhadora aérea e destruíram o carro, junto com meu aliado, desviei e lancei a dor sobre o que segurava a arma pesada, ele começou a estribuçar, lancei-me ao piloto, fiz ele ficar louco de bater a cabeça no vidro da aeronave até sangrar, o terceiro, tentou algo, mas atirei com o fuzil com uma única mão e estourei seu ombro; correu o jovem soldado, pelo deserto, segui ele, os cordões da vida dos companheiros eram segurados por mim, ainda tentou me matar com uma faca, segurei sua mão, poderia tê-la quebrado, mas não quis, pus minha mão em sua testa e capturei seu fio de vida. Cortei todos os três fios, mais três servos.
 A tarde caía e seguíamos pelo deserto em voo. Logo, lembrei do meu pai e de minha irmã, dos momentos antigos, das Eras de Ferro e Bronze, de nossos nomes, até de Agentes do Caos nos chamaram!... Era hora de por fim ao meu Exílio, voltaria ao mundo, era hora de "derrubar os navios e pilhar os inimigos, depois, ir beber rum no bar, whisky se preferir", como dizia Nemo, um amigo pirata meu. Talvez, tentassem derrubar este helicóptero, mas sou um daqueles que pode ver e sentir os fios, as cordas, da vida, meus desejos serão concretizados, custe o que custar.



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