sábado, 11 de maio de 2013

Filosofia em Contos: Ehi amico... c'è Kant, hai chiuso

Enquanto ele punha seu chapéu de três pontas, caminhava entre as árvores da floresta temperada da sua pequenina cidade, ao qual, nunca havia saído, ao qual, o mundo lhe revelava de uma forma mais pura e sensível que todas as coisas.

Então, dentro daquela enorme floresta ao qual se perdeu na busca de morangos para uma torta que sua tia iria lhe fazer, em comemoração pela entrada na Universidade, Emanuel encontrou uma justa dama de seios fartos à chorar num rochedo:

- O que e pelo que chora, bela dama?

-Choro porque sou pura pelo mundo que não é, seus sentimentos poluem-me, não posso mais respirar... Minha pequenina espartilhada mantém meus ares dentro de mim, mas, não posso-lhes mais conter, não posso conter-me mais, não me compreendo mais!

-Calma, jovem dama da pele branca, pelo que precisa? Qual tua graça?

-Sou tudo o que está em volta de você, eu sou aquilo que tudo vê e o é, porém, aquilo que é mister aos olhos dos impuros...

-O Pecado?

-Não... Não existo num mundo em que você reside, existo em outro, sob você, sobre seus pés...

-Como? –Agitou Emanuel em seu chapéu, sentiu algo muito maior atrás de si, virou-se e viu: outra dama, de vestido azul, como Urano, vi com olhos muito azuis que quase eram negros

-O que faz aqui, irmã de tudo?

-Eu? Irmã de eras, eu choro!

-São irmãs? – Perguntou Emanuel

-Sim, eu sou a que era e ela a que estava, - respondeu a de azul que chegara -Mas, porque chora, minha irmã? Este cego lhe fez algo?

-Não, ele é amável, mesmo que isto seja repugnante, mas, amável ele o é...

-Como cego? – Perguntou Emanuel – Eu vejo tudo que está na minha frente!

-E é por isto, - disse a de Azul – que você é cego, confiando na sua própria visão, ela é parca e pequenina, sem poder captar minúcias, sem o Verdadeiro Sensível

-Como??

-Sim, belo rapaz – disse a moça que chorara – Seus olhos apenas apreendem aquela parca luz que emitem do sol e das estrelas, apenas com isto, não pode fazer nada mais que uma onda batendo no grande oceano das coisas

-Mas... Eu passei nos Altos Estudos, vocês são apenas mulheres e...

A Dama de Azul apontou o dedo e, em um piscar, a barba branca brotou e as peles e membros antes rígidos, de Emanuel, decaíram por terra, ele se tornou uma massa de pele e ossos idosa. Em dois momentos, voltou, assustado, disse:

-O que é isto???

-É o que sou, o que pode ver e sentir, sou o que era! Tudo que foi! – Disse a dama de azul

-... – Assustado e sem palavras, Emanuel sabia que aquilo não era nada de divino, apenas algo que não poderia compreender com seus sentidos normais...

-Meu jovem belo, entende que você pode me ajudar??? Tenho medo...

-Como? Eu? Um homem?

-Sim, ele é um homem, não cabe a ele, doce irmã – disse a moça de azul

-Mas, minha jovem dama... Como, como eu poderia ajudar vocês... Coisas, vocês... Que não entendo pelo que vejo e sinto...

-Se tu não pode, infectada por aquilo eu estarei...

Então, mesmo a empáfia da moça de azul não resistiu, ela tomou-se de terror e temor, ao ver aquele gigantesco Lobo, que fumava um charuto e tinha botas de espora. Sorria impiedosamente, enquanto, em pé e perto de uma árvore, observava as moças, com patas no seu cinto de couro.

As duas moças ficaram coladas com seus belos, voluptosos e perfeitos corpos, coladas em si, viam apenas Emanuel, junto em temor, gritar:

-Besta furiosa, quem és tu?

-Aquilo que sente, homem pequenino e meu... Dono de você, dono de tudo, não me deixe entre mim e minhas consortes... Prostitutas que me alimento de todas as formas, toda a noite, desde o início de tudo, antes mesmo de você...

Emmanuel, então, pegou um pedaço de madeira, um fino galho e tentou fazer com que estivesse armado. O Monstro riu e disse:

-O que contra eu, tudo que Sente, pode fazer? – E com uma baforada do charuto do Lobo, toda a violência de Emanuel se tornou puro temor, depois, puro amor, depois, fome, tudo misturou-se e o jovem, colorido na pele, estava nauseado pelo movimento dos sentimentos que não parava dentro dele...

Então, ela veio... E algo brotou de Emanuel, algo luminoso, algo que ele teve e gritou:

-NÃO! Besta selvagem!

A luz do seu peito se conduziu a uma lanterna e, o jovem do chapéu de três pontas, iluminou a face da besta enquanto dizia:

-Se desde o início de tudo e todos, você açoitava moças ruidosamente, se tudo o que sinto é do seu domínio, logo, tudo que Penso é Meu... E como Meu, posso iluminar teus dentes, vil criatura, iluminar tua face estúpida do Sentir pelo Sentir, e do Medo pelo Medo, Amor pelo Amor, provar que nada disto supera aquilo que digo dentro do que calculo e raciocino!

O Lobo então disse: “-Você tem Razão, jovem, agora tem a Razão que sempre teve e terá”, e sumiu entre as árvores, para sempre ferido.

Guardou a lanterna em seu casaco, e sorriu histericamente, pois, parecia ter de Toda a Vida roubado um segredo. Então, as duas moças se aproximaram dele e teceram nele um beijo em sua boca, primeiro a que Era e, depois, a que Estava:

-Como se chamam as jovens damas que para mim são perfeitas? – Disse com a face ruborizada

-Eu, a que chorava, sou o Espaço

-Eu, a que ruidava, sou o Tempo

-Nós – disseram as duas -, que agora estamos e somos, pela tua Razão, Eterna e límpida do que se Percebe, nos entregamos a ti, por toda a sua existência seremos tuas consortes.

E sumiram nas brumas da floresta.

Então, Emanuel pôs o charuto do fugido Lobo na boca, sorriu e caminhou para casa, já não mais precisava de morangos, pois, as doces frutas que a Razão lhe iluminou, mais saborosa era.


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