sábado, 11 de maio de 2013

Os Donos do Mundo

Cerska acordou, cuspiu na pia o resto de rum que havia em seus dentes, olhou para o espelho e se viu pela última vez.
Saindo para encontrar sua mulher que já estava a tomar café, Ana Palatina, o jovem professor de História do Século XX se viu acuado por uma histérica moça. Ela correu para fora do apartamento na Nova São Paulo, enquanto o rapaz corria atrás dela, mais assustado que ela...
Começaram a gritar para ele e tentaram acertar-lhe um tiro, vindo do senhor de roupão, Edgar Bergman, que sempre lhe foi carinhoso para dar-lhe um pouco de açúcar em barra nos dias frios. Cerska não entendia e corria para embaixo das escadas do prédio, escondido, como pequeninos flocos de cinzas caindo do céu que era limpado pelas Garbages-Aéreas.
Viu ele então um guri e ele ficou em silêncio, olhando-o... Cerska que era muito bom com crianças, pois era professor de uma Universidade, perguntou ao garoto de uns 9 anos: O que comigo há?
 -Oi, senhor Crocodilo! - Apenas disse o guri
 Neste momento, a Tropa das Empresas IMEM de Segurança Pública chegou com seus rifles e tanques de contenção, com seus passos, sufocavam o som da respiração ofegante de Cerska que temia tudo agora, temia pelo que vinha, a Força da Mão Visível.
 Então, o pequenino, iluminado pelo som de um dos rifles, disse:
 -O moço está ali...
 Uma mão pegou o garoto, outra luz mirou nos olhos de Cerska que, assustado, correu para o meio do pátio do condomínio. Os ouvidos da criança foram tampados e ela foi virada para trás, abraçada por um dos uniformizados.
 Dois tiros foram ouvidos.

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Saoirse estava tomando um pequeno copo de cola-quente quando ouviu algo lá fora... Saiu, com estranhesa... Estava acostumada a coisas estranhas, desde que viera para a metrópole Campos Gerais, nunca vira cidade tão fria e tão quente antes... Lembrava pouco de sua terra, mais seu pai, senhor Takeda Soren era um refugiado e ela, uma filha de um... Aprendeu a usar uma velha 45 do pai, mas, ainda temia o que os sons da noite podiam trazer...
Em 78, foram os mesmos sons que levaram a migração Coreo-Japonesa, as mesmas sirenas, as mesmas coisas que tocam quando estamos com medo, coisas que os Filósofos Sentimentalistas chamam de "coração", um conceito a muito extinto. Principalmente no de Saoirse...
Olhava com olhos de cabelos escorridos e loiros quando, de súbito, no bangalô de seu pai, na casa típica japonesa, surgiu um enorme Panda, gritando e urrando!
A garota Saoirse caiu, correu, ficou numa distância: tirou de sua cinta a velha arma do pai, ficando em posição, atirou na cabeça do Panda. Estranho, ele ficara apenas olhando para ela, quando, de súbito, antes da bala, disse:
-Filha...
As lágrimas da menina rolaram pelo seu rosto e... E... Não havia mais nada a não ser... Um vulto interno de si...
Então, as asas de corvo negro da tristeza saíram de seu dorso, cobrindo aquele coração triste.

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Felipo Fiódor caminhava entre os mármores da Enorme Casa, sede dos poderes em Brasília. Seus passos eram tortos, estranhos para todos, ele continua a ir e nunca parava, até chegar em uma enorme sacada, aonde uma câmera voadora, gravava tudo, inclusive os homens de ternos com cintos coloridos embaixo dele, que estava vestido com um colã e máscara verdes e capa amarela:
-Pequeninos, estamos aqui para dizer o que há de mais novo... - Disse ele, enquanto era enquadrado como em estilo americano - Há no mundo um caos que não existe precedentes! Nunca antes na história da Humanidade os seres normais enfrentaram maus tão caducantes e monstruosos... Os 4 Cavaleiros chegaram para nós desde os anos 50 e, agora, nós caminhamos entre os destroços de nossos compatriotas deste Contrato Social e Natural com a Terra e Homens que foi quebrado. Porém, é chegada a hora das trombetas retumbarem o nosso hino, um hino sobre todos os outros! Fico feliz por vocês, Ministros do Brasil terem sido os primeiros a verem isto, nesta nação que há muito pouco chegou aonde chegou!
Gratos a todos, nós, os Donos-Naturais, sobre a figura de mim, Felipo Fiódor da Silva, o Arauto da Causa, aceitamos de ótimo grado o Governo desta Nação!
O homem de roupas verdes, então, retirou aquilo que revelaria seu rosto, de um gigantesco lobo-guará:
Gritou: - PELA CAUSA DOS DONOS-NATURAIS DESTE PLANETA!

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Na Escola de Reformatação, a Saoirse olhava com olhos quase puxados e seus cabelos escorridos e nórdica face pela janela, havia uma cerejeira lá, como havia naquela ilha que não mais está habitável. Lembrou de seu pai, e o vazio tomou conta de si.
Logo, entrou pela porta o novo professor:
Ele escreveu seu nome no quadro e começou a falar, animado, pediu para que todos colocassem seus cartões para registrar sua chamada. Começou a dar sua aula sobre a Segunda Guerra, e suas implicações para o Século XX, história antiga.
A jovem olhou com ternura para aquela figura, magra, pálida e de olhos claros que, animadamente, tentava conquistar aqueles jovens que - alguns deles, como Saoirse - nunca veriam mais a luz de qualquer sol ou lâmpada noturna.
Passaram-se alguns meses até que, ele viu a jovem trocando de roupa, sem querer, num banheiro unissex, desculpou-se e entrou em outro box, porém, antes de sair, ouviu: - Podia ter ficado...
Passaram-se alguns dias mais, o professor de história do século XX viu ela se trocar mais uma vez, para ele, pela fechadura.
Algumas horas depois, beijaram-se pela primeira vez.
Alguns minutos depois dela sair do apartamento do professor, ainda ruborizada pelo acontecera naquela "Saída de Condicional Acompanhada", senhor Edgar, vizinho do professor, cumprimentou os dois, sabendo das coisas que o coração traz... Ele mesmo, há muito tempo, soube disto uma vez, quando ainda este conceito tinha alguma lógica na Raça Humana.
Então, Ana voltou para casa e viu eles, juntos, entrando no carro enquanto quase chovia... Choveu e molhou tudo.
De noite, quando voltou, o professor foi perguntando como havia sido, respondeu a sua mulher:
-Bem, Palatina, foi tudo bem... - e ele voltou a fritar omelete
Logo, tocou o celular-de-mão e Ana chamou a atenção do professor Cerska:
-Aqui, - respondeu - ah, olá pai! Como vai?
-Tudo bem, tudo bem Cerska, e você?
-... Bem, ao que parece...
-Não está sentindo nada, filho?
-Não, nada pai, porque? Alguma gripe nova que vocês descobriram aí no Observatório?
-Não, não filho... hahhaah... Bem, vou desligando, era só isto... Ah, a Ana está bem?
-Está, pai, está... Enfim, até, pai, bom trabalho aí!
-Falou, meu filho!
Desligando o telefone, disse Ana, que via a notebook:
-Seu Felipo, sempre ligando para ver se o filho único tá bem... O que ele queria?
-Nada, apenas ver se eu estava bem... Apenas isto, Ana...
-E está, sr. Cerska Fiódor?
-Estou, Ana, estou.


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