domingo, 26 de maio de 2013

Sircadianos e o Seu Tempo


Em um pequenino planeta, que nem era tão pequenino assim, mas, comparado com o Pensamento Nyxk, o era, era habitado por um povo curioso, um povo antigo, aos quais os Serafins possuíam imenso respeito. Os Sircadianos tinham apenas um metro à um e meio de tamnho, parecendo felídeos, com uma pele pontuda azul. Disseram uma vez: - Fomos assim desde que vencemos a guerra contra os Balizarogs, que eram vermelhos e tinham escamas no lugar de pele-pelos...
Tinham um governo estranho, mas, muito semelhante ao pensamento Nyxk, porém, não podiam chamar aquilo de governo, nem com a ideia mais anarquista possível, havia um sentido individual pleno: - Olha, lembro-me que, quando eu era Outra Coisa, houve um Maestro [chamavam assim os seus antigos líderes, um misto de general com poderes de promotor e advogado, além de um nível de instrução alto], o Lorenjo, ele tinha dois metros e era diferente de nós, pois, era modificado, ele venceu a Última Guerra, vencendo o Dólmen dos Balizarogs e fundando o Novo Mundo, através de descobertas dele(s)...

Descobrimos depois que, na verdade, este Lorenjo era um líder mais antigo, que não viveu até a grande mudança dos Sircadianos, sendo mais uma Escola de Filosofia e Ciência do que qualquer coisa. Quanto aos mutantes, ao que parece, esta mutação desapareceu há muito tempo atrás, porém, nós, os Serafins, não podíamos medir quanto, nem quando, apenas, que ocorreu isto. Hora, mas, por que isto? Bem, pelo fato de que os Sircadianos a noção de tempo é completamente imbecil, sem sentido algum. Eles são completamente imortais.

Desde o tempo do que eles chamam de Grande Mudança, a maioria do povo daquela época passou por um tratamento em Reatores Bioatômicos que, alterando ligações específicas, causaram nos indivíduos a capacidade de Respirar como plantas, ou seja, via radiação. Só que a sua massa não se alterava, sendo liberada através uma energia – descobrimos que era simples Raio X – que, com isto, gerava uma troca ecológica com certas plantas vermelhas, os Zarogs. Talvez estas plantas tivessem algo haver com o povo com quem eles lutaram, mas, como saber? Além de imortais, eram invulneráveis com resistência Núcleos de Sol ou talvez Supernovas, além de regeneração, entretanto, eram inférteis. Bem, e com isto, o problema quanto a “História Sircadiana” é o de que para eles, imortais, não haveria como descobrir nada sobre eles mesmos, seu conceito de tempo – biológico e histórico – desapareceu completamente, só sobrando alguns processos curiosos: a cada milhar de anos ou quando saiam da órbita de seu sol amarelo avermelhado, possivelmente, mas, não é um padrão, os Sircadianos ficavam com uma espécie de resfriado, que era tratado com eles vivendo dentro dos cascos dos Zarogs por algum tempo, quanto? Não importava, para eles, não.

Afim de resolver isto, estudos secretos dos resíduos arqueológicos foram feitos, porém, nada encontrado, pensamos que eles foram, ou limpados, ou apagados pelo tempo, o que nos dariam alguns milhares de anos. Isto já era bom, porém, ainda havia muitos segredos sobre as vivências deles, já que, ao que parece, os Sircadianos haviam realizados viagens entre seu quase intrasponível Cinturão de Asteróides – que os manteram livres de invasões alienígenas as quais não pudessem combater -, porém, que poucos haviam feito por muito tempo... Mesmo eles não morrendo fora de seu sol, os efeitos do resfriado eram muito forte e incômodos... Veja só, algo incomoda os imortais!

Logo, resolvemos negociar, já que este povo permanecia em segredo total o seu passado, só que eles tinham um gosto enorme pela pesquisa. Sabiam de vários povos da Galáxia Azul-Verde e tinham muito saber para transmitir. Além disto, não ofereceram qualquer resistência quando foram abordados por nossas naves, ficando sempre gentis, só não gostando que tocássemos nos assuntos de sua própria história, que, no fim das contas, era sua própria memória.

Propomos que eles viessem até o Centro do Pensamento Nyxk, o Sistema Original, e visitassem o nosso Arquivo Pessoal de Conquistas. Aceitou-se que um deles fosse, Apiso, um ser Sircadiano de olhos verdes-roxos.

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Estranhos, sim, estranhos estes Nyxk, porém, há muito não sentia algo como eles... Há muito, bem, não sei... Quando passei pela Grande Mudança, talvez. Emoção, quando caia ou voava, talvez. Porém, não fui em lugar algum fora dos Asteróides, não interressa.

Não entedem os Nyxk, que quando são viajantes e guerreiros usam armaduras de robôs micros chamados, no conjunto, de Serafins, como eu falo, como nós falamos. É difícil se expressar com quem ainda tempo a Passagem das Coisas como um tipo de... De... Relógio! Isto, Relógio!

- Medidas das coisas, dos ondes, eu compreendo, sei que estou indo para o Centro de um Mundo Impressionante, compreendo o evento, sei de sua importância em minha memória, só que não me interessa quando acontecem as coisas, é irrelevante a Sequência. – Disse explicando para Aluviel, o Oficial que havia nos recebido em sua nave.

Conversamos por vários momentos, vários assuntos. Chegando á cores estranhas, vi o Cinturão de Asteróides e a Gigantesca Nuvem de Caizon, e senti o calor de várias estrelas. Estranho, quando vi o Sistema Original, senti uma certa solinidade nos meus enormes hospedeiros – eu tinha um terço de seu tamanho. Chegamos num enorme pleneta rosado, parecendo gasoso, fui avisado por Aluviel:

-Daqui eu não passo, não teria como...

-Por quê? – Perguntei.

-Minha mente é muito frágil para o que esta ali...

-O que é “Ali”?

-Rudedeon-3, um planeta inóspito construído por nós... É um Planeta Arquivo.

Me senti impresionado, logo, sendo teletransportado por um raio para uma base no planeta. Fiquei num tubo de metal, fiquei até ser resgatado por um enorme ser, talvez a criatura mais elegante que vi: -Olá, meu nome é Zapriomo, sou o Guarda de Rudedeon-3, o Planeta Arquivo de Conquistas de Nyxk

Era enorme, maior que Aluviel, porém, mais estranho, tinha uma pescoceira prateada com uma cápsula envidrada como um tipo de escafandro. Logo, percebi que havia algo estranho, o planeta era pesado, denso, parecia que minha cabeça ia explodir, mesmo tendo tomado minhas aspirinas mais fortes e mantendo minha meditação em dia. Perguntei ao Guarda o por quê daquilo, disse ele:

-Aqui, existe uma gigantesca atmosfera de gases, entretanto, não é só isto de pressão que ela faz... – Apertou um botão no braço

Os brilhos apareciam e várias coisas jorravam pelo ar. Então, assisti espantado, sentando-me em uma pedra de rocha metálica toda uma história incrível: várias lutas e batalhas no tempo do Primeiro Imperador, as conquistas do Segundo, o reino do Terceiro e a fundação do Pensamento Nyxk pelo Quarto. Sabendo do que se tratava tudo aquilo, disse para Zapriomo:

- Não me surpreende este uso, é Tecnologia Gasosa dos Rudedeons, como vocês chamam a raça com chifres, pele cascuda olhos vermelhos [parecidos com rinocerontes]. Mas, não sei o que esta fumaça toda por de me trazer...

Por um desafio como este, Zapriomo me mostrou várias coquistas e povos, indo até os confins da Galáxia Azul-Verde, chegando até as Batalhas nas Nuvens Termas, o quando os Nyxk enfrentam os poderosos Unterons-Aly, um povo de energia

-Ok, me surpreende o fato de não pensarem que conhecemos os Unterons, eles já foram chamados de deuses em muitos mundo, com seus corpos de energia e células dispersoras, repulsoras, com dimensões de micrôns até planetas... Sabemos de várias coisas deles, inclusive, sua origem, ignóbil...

-Então, sabem como destruí-los?

-Não, não como vocês... É incrível, mas, acabo de acessar como vocês venceram Anter, o Amarelo, que pesava cinco septilhões, vocês superaram qualquer coisa que vi... Descobriram até como Viajar no Tempo, mas, também o infudamento disto e o Sentido da Realidade... Estranho, não vivem para sempre...

-Você viveria, se pudesse?

-Isto não faz sentido para mim...

-Mas, você usou “para sempre”, então, você sabe que existe o “por um momento” também?

-Sei disto pois vivi mais do que tudo...

-Sabe, tenho 60 mil anos [anos terrestres]... Pela Regra de Mudança dos Sóis

-... – Um silêncio se instalou sobre mim, Apimo. Não era possível, não?

-Diga, diga logo o que quero, o que é o Tempo para vocês? Como tudo aconteceu?

-Você é impaciente para alguém tão antigo...

-Sabe que posso cortá-lo em pedaços, não? Entretanto, você não morreria, o que não teria sentido

- Vi que não corria perigo quando entrei na nave que me trouxe aqui, também vi a sua espada, suas inscrições em marfim, são da Cultura que vocês... Deixe-me ver, - acessei as informações da nuvem, que já tinha aprendido como funcionara com o próprio criador da tecnologia – do Povo Kiduuou, possuidores de armas bélicas numa Guerra Fria, desenvolveram uma cultura da luta por espadas, os melhores espadachins... Hm.. Interessante...

Neste momento, minha sensação de potência foi perdida quando, voltando-me para Zapriomo, vi ele com um olhar fixo que saia de sua face pálida, sorriu e percebi ter caído em um truque tão velho quanto meu povo. Fui atingido por um cordão de gás que, como supus, era um tipo de tecnologia desenvolvida pelos próprios Nyxk, fundindo com os Rudedeon, era incrível... Realmente, senti que toda as barreiras da minha sólida sanidade se perderam, logo, o escuro véu do meu passado chegou às minhas têmporas, sim, eu voltei a ter passado.

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Era cerca de sessenta mil anos atrás, talvez. Contamos o ciclo de vezes que fui para curar meu resfriado com uma cálculo complicado com nossos sol e lua. Todo o calendário fora abolido pelo Ato de Lorenjo nº 4: A Queda do Tempo dos Vivos.

Estava malhando para manter-me em forma, pois a Guerra com os Balizarogs era muito dura: eles eram milhões, bilhões, nós, alguns milhares. Haviam vencido com sua biogenética militar todos os nossos soldados, nós brigávamos em trinceiras encarniçadas, apenas Amulene era segura, uma cidade forte de quatro cantos, simétricos, fundados pelo meu pai, há cem anos do que nasci.

Lorenjo era o último dos grandes que militavam por nós no Tribunal Mundial, que agora discutia se era legal ou não nos matar a todos, e, com a Tecnologia dos Balizarogs, não havia como não fazê-lo: eles eram seres-árvore, com seis braços, tinham inteligência superior e nos dominaram por completo. Nós, o pior de tudo, havíamos criado eles como algumas experiências, criaturas simples que evoluíram enquanto buscávamos a imortalidade... Em trezentos ciclos, venceram tudo o que tinhámos e nós, antes dominadores de oito planetas, passamos a ser apenas meros seres frágeis, com nossos corpos cheios de pêlos e luvas de raios...

Entretanto, algo mudou, e me lembro do dia porque foi o mais importante da nossa História: Lorenjo descobriu como alterar-nos, um dos seus subordinados, um que ainda não estava envolvido na guerra, ele descobriu como... Através de algo que era para apenas ser um tipo de ressonância celular da mais avançada já feita, acabou por se mostrar um alterador específico, que, por uma sequência de tentativa e erro descoberta pelo próprio Lorenjo, mudava um certo gene que apenas nós, os Sircadianos originais, tínhamos... Ele causava uma reação em cadeia de um tipo de câncer funcional, que, combinado com certas enzimas, nos tornava Imortais... Sim, IMORTAIS!

Então, nós, em centenas, lutávamos por dias e noites, não parávamos, nem bebíamos, não respirávamos as vezes no campo de batalha: adentrávamos na frente das balas de goma-ácida dos Balizarogs, de seus socos que nos arremessavam longe, e, revidávamos, com choques em seus olhos – única parte vulnerável – ou os derrotando por cansaço, o que para nós era fácil. Em três meses de nossa investida, acabou a Guerra, em um ano do nosso planeta, capturamos todas as cidades deles, em cinco, já não tinham nenhuma arma possível de nos ferrir, pois, destruímos tudo, matando todos os governantes deles.

Lorenjo, eufórico, foi elevado para o título de Maestro da Harmonia de Sircadia. Enviamos nossas missões aos outros planetas, convidando aos que quisessem de nossa raça para que ficassem conosco, como líderes de um futuro universo Sircadiano... Eu, já como um Maior do Noroeste, dominava mais de duzentas cidades com minha mulher, Alima e meu fílho, Joimo, éramos felizes...

Só que, o Projeto se mostrou estranho... Em alguns anos, vimos que meu filho não mudava de forma, assim como eu e Alima não podíamos ter filhos... Logo, foi mostrado que éramos além de inférteis, com um processo no momento inrevessível de nossa forma. Lorenjo, que havia mandado vários de nós pelos nossos oito planetas, duramente conquistados, pois existia o Corredor de Pedras Mortais, asteróides que impossibilitavam nosso trânsito sem muita manobra, começou a apresentar-se estranho em nossos Congressos... Um dia, quando o único representante dos Balizarogs não veio para a reunião, o Maestro Negro disse:

-Vocês, irmão imortais, sabem o que há nas ruas? Percebem o que vem acontecendo com nossos camaradas Balizarogs? Vêem que as ruas e campos de lírios-morangos ficaram vazios? – Fazia muito tempo que ninguém lembrava do nome deles... Eu não me lembrava – Pois, então... Descobri que eles são afetados por algo que nós produzimos, uma radiação que emitimos de nossos corpos acaba por adoecê-los, estranhamente, isto não existe nas plantas Zarogs, d’onde eles foram desenvolvidos com nossos genes... Não acredito que haja nada mais estranho para nossa imortalidade que isto... Os Balizarogs, eles estão... Morrendo... Por algo que parece um resfriado, mas, que logo, destrói a todos...

O vírus, surgido dentro do processo de imortalização, era resultado de nós mesmos que, sendo portadores dele, acabamos por tornar o mesmo imortal, quando em nossos corpos... Ele não nos matava, porém, era aniquilador de quase toda a cultura viva em nosso planeta, menos dos Zarogs. Mas, surpreendentemente, Lorenjo disse:

-Eu, entretanto, com meus pesquisadores, descobri como reverter o processo... Só que é um processo individual, arriscado, mas, que é possível...

Então, pedi a palavra e perguntei o que todos queriam saber:

-Mas, isto nos tornaria mortais?

-... – Lorenjo relutou e disse, finalmente – Como éramos antes, pertencentes a este mundo!

-... Não... Pertencentes... A Outro Mundo. – O respondi.

Lorenjo fundou, depois de alguns meses de sua mortalização, o movimento: Vida Finita. Contrários a ele, nós, os Permanentes, ficamos como estávamos. Sequestros de ambos os lados resultariam até a uma Guerra Civil, porém, Lorenjo, prevendo isto, tentou de toda a forma deter as hostilidades...

Meu filho escolheu o Lado de Lorenjo, afinal, ele tinha forma de criança... Só que a mortalização era permanente, segredo de seu criador até o fim da vida, não pôde voltar. Com ele, foi minha mulher, que seguiu o rumo do meu filho e de sua companheira, uma Balizarog.

No fim das contas, bem, no fim das contas... Apenas alguns milhares sobraram.

Só que os milhares que sobraram já foram suficientes para que, em cerca de uns cem anos mais, os Balizarogs fossem exterminados.

Quando os Viajantes voltaram, tentamos ir para outros planetas, mas, a situação era semelhante, só que, em muitos deles, a quantidade de Sircadianos era tão ínfima, que acabavam por voltar com aqueles que viajavam: eram os únicos restantes. Só que em um dos planetas, uma cura foi encontrada para o vírus... Através de mudanças moleculares... Era tarde, entretanto, apenas algumas centenas sobraram dos Balizarogs e vimos suas últimas centenas morrerem...

Foi por esta época que uma dor de cabeça nos incutiu, entrou em nós e ficou sempre martelando, de tempos em tempos... Era intensa e nos dava a sensação de sermos tragados por denso mar negro de tudo o que existe e vimos... O que era muito...

Então, desde então, criamos algo, criamos algumas coisas... Como entrar numa planta alucinógena ou que Lorenjo, que estava certo, acabou por desenvolver várias coisas... Era um herói... Era... Foi, Será, tudo abolido, nós redimimos tudo para o Sempre, nossas eras tornaram-se... Tornaram-se no infinito momento do É, o Presente.

...

Desde então, Zapriomo e Rudedeon-3, é assim.

Então, vi o Nyxk olhar-me, com face piedosa, ou nojenta, não sei... Disse:

-Por isto, Apiso, por isto morremos.

-O que haverá agora?

O Nyxk, com compaixão, talvez, apagou com um movimento de mãos das nuvens de Rudedeon-3 as minhas memórias, disse, porém: - Um dia morrerei, e, quando isto ocorrer, você viverá para ver a queda da sua memória e vocês enfrentaram talvez uma das poucas imortalidades que existem... O Contar sobre o Outro...

-E... Bem, até lá...?

-Enviei o ocorrido para Sircadia, eles saberão de tudo, talvez, você deva viajar... Afinal, um dia o Universo acabará, talvez...

-E talvez... Talvez a Dor de Cabeça pare...

-Sim, talvez a Dor de Cabeça pare, mas, ainda será por apenas um momento, pois, ela ainda estará lá como estas suas memórias... Apenas envoltas numa névoa, e com apenas isto, névoa e nada mais.

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